sexta-feira, 21 de março de 2008

Monólogo

E diz um ser pós-turbofolk comatoso: Quero ir ao teatro. Procuro desesperadamente assistir a algo na zona de Lisboa com o mínimo de interesse e o máximo de astúcia.
Quero ir ao cinema. Procuro desesperadamente ver algo na zona de Lisboa com o mínimo de interesse e o máximo de astúcia.
Nada. Rien. Nothing. Nickles pickles batatóide (holly cow, what the gosh was this!).
Quero a Coppola, quero-o-richard-kelly-novamente-como-promessa-da-nova-geração, quero os old-new sublimes Gust von Saints, quero a minha geração de trintões. Sereias! Tritões! Nada. Todos cansados, todos à míngua.
Ora bem no teatro quero.... hmmmmmmmm. Não quero nada. Claramente, nada.
Eis uns highlights de textos publicitários de espectáculos que estão em cena: da chamada geração nova.
Se esta se define assim, se esta se autoriza a definir assim,
pois então eu cá prefiro a geração velha.

#1
Esta criação, tal como as outras, começou com o mesmo objectivo: o desejo de comunicar algo, coisa que na arte não é muito comum, nos dias que correm. E este desejo impõe-se à forma, à vontade de qualquer estética ou formalismo. Ele ganha forma em relação directa com o interior das coisas.
O teatro é (...) um lugar de tensão entre o conhecimento e aquilo que não dominamos, entre o antigo e o novo, entre eu e eu. Não me interessa solucionar. Interessa-me criar problemas. Esvaziar o conteúdo para nos libertarmos da forma. Por isso eu não imponho. Eu aceito, selecciono, proponho a partir do que existe, do que está a acontecer.
Não sou eu que escolho os temas, mas são eles que me escolhem a mim. Eu escolho apenas as pessoas e a partir daí o trabalho está limitado. Não sei falar de metodologias, de disciplina, mas sim de liberdade e intuição. Não aguento mais uma arte fechada em si própria, uma arte para os amigos, uma arte gira, uma arte capitalista, uma arte dramática. Hoje sei que estou a fazer o que tenho de fazer, o que não posso evitar fazer.

#2
Penso o meu trabalho não como a exposição de uma postura afirmativa mas enquanto estrutura provocadora que força o espectador a posicionar-se perante ela, revelando o seu próprio discurso ético sobre a “coisa”. Em última instância trata-se da afirmação da nulidade do acto afirmativo.
(...)
Não prescindo deste objecto (um video; nota minha) dentro de um processo estruturalmente anti-objectual, onde mais do que criar se gerem “coisas” pré-existentes, porque o considero enquanto materialização da necessidade de memoria, ele existe no projecto enquanto falso consolo final, enquanto recompensa obsoleta para um espectador que já passou pela necessidade de se desfazer da sua necessidade objectual, e neste sentido é também falsa a inutilidade deste objecto porque confronta o espectador com tudo o que abandonou durante o o processo performativo, e nesse sentido a sua inutilidade transforma-se em questão.


#3
O Contrabaixo: o rapaz que não fala. o pai um dia disse-lhe: “na vida tens de ouvir mais do que falar”. Levou o conselho tão a sério que não voltou a proferir. Para que se pudesse expressar, os pais, ofereceram-lhe um contrabaixo. Aqui é entendido.
(...)
O Perchista do Pensamento: procurava captar o silêncio absoluto. Possibilitei-lhe a grande revelação: a sua perche, aqui, captou o pensamento. Descobriu, assim, o silêncio absoluto: a torrente interior dos outros, o não dito, o selado a sete chaves das vontades alheias.
A Menina Bonsai: quer crescer pouco e devagar por fora para poder crescer devagar por dentro. é sábia, conhece os verdadeiros rostos do bem e do mal. Não quer chegar a saber tudo mas sabe que está lá perto. Plantou-se em mim e chora quando cresce por fora e por dentro.


A geração nova é assim: não quer nada, não quer ideologia, não quer nomenklatura, não quer ter nada a ver com a hegemonia teatral, é hedonista, é multireferencial, é polivalente, e faz questão em distinguir ascetismo presencial no condomínio do commodity fetichism (enfim, o dilema dos Emos).
Cá para mim estão a um passo disto: "Experimenta-se experimenta-se, mas depois faz-se."
QUERO O PISCATOR. VIVA A REVISTA.
(E depois morre.)