domingo, 22 de abril de 2007

Ensaios O Avarento - Espaço do Tempo

Je vous parle d`un temps
Que les moins de vingt ans
Ne peuvent pas connaître
Montmartre en ce temps-là
Accrochait ses lilas
Jusque sous nos fenêtres
Et si l`humble garni
Qui nous servait de nid
Ne payait pas de mine
C`est là qu`on s`est connu
Moi qui criait famine
Et toi qui posais nue

La bohème, la bohème
Ça voulait dire : On est heureux
La bohème, la bohème
Nous ne mangions qu`un jour sur deux
Photo Sharing and Video Hosting at Photobucket
Dans les cafés voisins
Nous étions quelques-uns
Qui attendions la gloire
Et bien que miséreux
Avec le ventre creux
Nous ne cessions d`y croire
Et quand quelque bistro
Contre un bon repas chaud
Nous prenait une toile
Nous récitions des vers
Groupés autour du poêle
En oubliant l`hiver

La bohème, la bohème
Ça voulait dire : Tu es jolie
La bohème, la bohème
Et nous avions tous du génie
Photo Sharing and Video Hosting at Photobucket
Souvent il m`arrivait
Devant mon chevalet
De passer des nuits blanches
Retouchant le dessin
De la ligne d`un sein
Du galbe d`une hanche
Et ce n`est qu`au matin
Qu`on s`asseyait enfin
Devant un café-crème
Épuisés mais ravis
Fallait-il que l`on s`aime
Et qu`on aime la vie

La bohème, la bohème
Ça voulait dire : On a vingt ans
La bohème, la bohème
Et nous vivions de l`air du temps
Photo Sharing and Video Hosting at Photobucket
Quand au hasard des jours
Je m`en vais faire un tour
À mon ancienne adresse
Je ne reconnais plus
Ni les murs, ni les rues
Qui ont vu ma jeunesse
En haut d`un escalier
Je cherche l`atelier
Dont plus rien ne subsiste
Dans sonn ouveau décor
Montmartre semble triste
Et les lilas sont morts

La bohème, la bohème
On était jeunes, on était fous
La bohème, la bohème
Ça ne veut plus rien dire du tout

domingo, 15 de abril de 2007

Em Ensaios

O Avarento
de José Maria Vieira Mendes
a partir da obra homónima de Molière
Uma co-produção Teatro Praga / Teatro Nacional São João
com a colaboração de: Espaço do Tempo e Centro Cultural de Belém
Teatro Praga é financiado pelo Ministério da Cultura / Instituto das Artes

Estreia: Teatro Nacional São João, Porto (de 27 de Junho a 8 de Julho)
Temporada no Espaço do Tempo, Montemor-o-Novo: Residência - 16 de Abril a 5 de Maio / Espectáculos - 2 e 3 de Janeiro de 2008
Temporada no Centro Cultural de Belém, Lisboa: 11 a 19 de Janeiro 2008

Photo Sharing and Video Hosting at Photobucket
Kunst = Kapital (Joseph Beuys)

Texto: José Maria Vieira Mendes
Uma co-criação de: André e. Teodósio, Cláudia Jardim, José Maria Vieira Mendes, Marcello Urgeghe, Martim Pedroso, Paula Diogo, Patrícia da Silva, Pedro Penim, Rogério Nuno Costa e Romeu Runa.
Interpretação: Cláudia Jardim, Marcello Urgeghe, Martim Pedroso, Paula Diogo, Patrícia da Silva, Pedro Penim, Rogério Nuno Costa e Romeu Runa.
Iluminação: Daniel Worm d’Assumpção
Direcção de produção: Pedro Pires

domingo, 8 de abril de 2007

CONTINUA EM CENA

O Avarento de Molière
Exercício Final do Curso de Iniciação Teatral do CITAC

Dias: 9, 10 e 11 de Abril às 21:30
No Teatro Estúdio do CITAC, Associação Académica de Coimbra
Marcações: 967437098
Photo Sharing and Video Hosting at Photobucket

sexta-feira, 6 de abril de 2007

HOJE na Escola Superior de Teatro e Cinema

Imagens da apresentação final do workshop O Avarento com alunos da Escola Superior de Teatro e Cinema.

Photo Sharing and Video Hosting at Photobucket
Photo Sharing and Video Hosting at Photobucket
Photo Sharing and Video Hosting at Photobucket
Photo Sharing and Video Hosting at Photobucket
Photo Sharing and Video Hosting at Photobucket

Publicidade



Apresentação do workshop da E.S.T.C dirigido por André Teodósio e Cláudia Jardim

Amanhã, dia 6 de Abril às 15 horas, E.S.T.C, sala 107

A partir d’O Avarento de Moliére.

terça-feira, 3 de abril de 2007

Workshop E.S.T.C.

4ªsessão

Voltaram à Helena Rubinstein depois de estarem no alto da torre de marfim d’O Outro. Voltaram a ser só dois Ele e Ela.

Ele – Então pronto, começámos a gravar agora.

Ela – Mais uma vez voltamos à Lena Rubinstein…

Ele – Para mim ontem foi… Eu no fim já não estava a conseguir pensar.

Ela – Bem ontem foi muita duro eu também fiquei com os cornos em aguadilha…

Ele – Fiquei completamente estafado, estafado, estafado, estafado!

Ela – Tens de estar a dar resposta a cinco grupos diferentes, n’é?

Ele – Sim, sim, sim, andas a saltar, a saltar e depois… É um jogo altamente perverso que é…ahhhh…tu tentas dar-lhes a volta e eles tentam-te dar a volta.

Ela – Sim.

Ele – Então tu estás ali sempre… a tentar…ver quem é que dá a volta a quem…

Ela – Sim, sim a ver quem é que desiste primeiro.

Ele – Sempre.

Ela – Mas isso é bom sinal!

Ele – Sim, sim, sim, sem, sim é bom sinal. Mas eu também sinto que eles, se calhar, às vezes estão a crashar um bocado demais e… e… se calhar devíamos fazer outras coisas para… p’ra…p’ra descompenetrar, p’ra desc… para descomplexificar mais, nuns momentos, não sei às vezes parece que estão…entram em tilt rapidamente.

Ela – Pois , mas eu, eu acho que isso é pela falta de hábito neste tipo de exercício de pensamento… por que pá, é muita difícil, MESMO, é mesmo muito difícil… e… pá e os gajos… o que eu sinto é que como… como não têm esse calo ainda facilmente aquilo… Basta um dizer não e não sei o quê e aquilo tilta logo.

Ele – Pois.

Ela – (Risos) Gostei muito da Catarina e da Joana que ontem resolveram ir beber cervejas. (Risos)

Ele – Isso foi bom. Isso foi bom. Foi óptimo.

Ela – Aquilo não estava a ir para lado nenhum, elas estavam a tiltar completamente e foram arejar. Depois chegaram às 23 e 30 muito contentes, aquele género, já arejamos. (Risos) Já estamos capazes outra vez.

Ele – Eu gostei bastante do Tiago porque ele mudou radicalmente, propôs –se, ok, mesmo que não seja aquilo que ele queira fazer propôs-se fazer… a… a, a entrar no nosso jogo.

Ela – Sim, sim.

Ele – De alguma forma.

Ela – Também achei.

Ele – Já não estava a resistir, já estava a… a entrar no jogo.

Ela – Também achei que foi alto salto no grupo dele da Margarida do Nuno e da Carla…

Ele – Sim, sim, sim…

Ela …Que estavam altamente resistentes na, na, na….na sessão anterior de trabalho.

Ele – Sim, sim, sim.

Ela – Pá e parece-me que se os gajos apostarem, se fundamentarem bem o caminho que estavam a encontrar, pode ser muito interessante.

Ele – Depois eu vinha no comboio e vinha a falar com o Diniz e ele disse-me uma frase absolutamente maravilhosa que é…uma espécie de…ahhh….nuvem ….

Ela - Diz, desculpa?!

Ele – De nuvem.

Ela - Sim.

Ele – Que é quando tu olhas para um texto…ahhh….encarares um texto como um catálogo de emoções. Ele estava a dizer… É uma coisa muita gira tu veres… Essa coisa que ele estava a dizer, tu olhas para um texto e é um catálogo de emoções, olha agora aqui estou triste, vou fazer isto triste, ou não, isto é um texto de mau, assim uma espécie de catálogo… é uma ideia gira. E ele estava a dizer que era um problema que os actores tinham… que… que olhavam muitas vezes para os textos e encaram o texto como um catálogo de emoções em vez de outra coisa qualquer. Eu escrevi logo, copiei, claro!

Ela – Fizeste muito bem.

Ele – Vou já pôr no meu blog, quando tiver Internet.

(Risos Ele e Ela)

Ele – Se calhar não temos mesmo tempo, devíamos comer lá ao pé.

Ela – Não! Temos. Então já estamos quase ao pé do Babilónia

Ele – Acho que também nos devíamos dividir, às vezes…

Ela – P’ra, p’ra conseguirmos estar com mais pessoas?

Ele – Sim. E também para quem está a trabalhar cenas, eles têm tantas questões sobre o texto, como dizer o texto, pá quem está a trabalhar cenas começar logo a fazer exercícios: então diz-me lá como é que dirias esse texto, pronto, não é por aí ou é por aí.

Ela – sim mas eu acho que, se calhar, temos de passar a fazer isso para a semana, acho que é bom… essa ideia da coisa ser mais prática e de… por que acho que… aquela coisa de que falámos, se eles não arranjam um caminho certo muito facilmente vão encostar numa…

Ele – Não, não, não. Mas o que eu estou a dizer é, estão sentados e estão a trabalhar sobre uma cena, pronto, independenteme… não é, não vão fazer a cena, estão sentados e estão sempre com aquelas questões: ai e o texto, como é que se diz o texto e não sei quê. Fazer logo umas pequenas experiências.

Ela – Ok.

Ele – Sem cena, sentados, a dizer o texto. Como é que se diz o texto? É mais isso não é nada fazer só para ficarem divertidos a fazer, de todo… de todo. Mas para mim ontem foi completamente…

Ela – Eu saí de lá arrasada

Ele – Eu também.

Ela – Arrasada.

Ele – Eles estavam cheios de energia e eu estava morto.

Ela – Pá, porque quer tu queiras, quer não, estás ali a especular sobre ideias de cinco grupo e…e estás completamente a meter-te naquilo.

Ele – Pois, pois.

Ela – É impossível estares a trabalhar ideias e cenas e coisas assim se não te implicares verdadeiramente e isso é muita esgotante.

Ele – Pois, pois. Mas foi o contrário, exactamente o contrário dos dias anteriores em que nós estávamos cheios de energia e eles cansados a consumir a consumir e agora estavam eles cheio de energia a produzir…

Ela – E nós, tipo, AHHHHHHHHH PÁREM!!!!!!!!!!!

Ele – A ficar mortos (Risos)

Ela – Eu no fim quando estava a falar com o grupo do Nuno, do Tiago, Da Carla e da Margarida, já estava enlouquecida. Eles começaram a falar e só me diziam: o riso, o riso eu, eu a crashar...

Ele – E eu, fiz um ponto… no final queria fazer um ponto de ordem…

(Risos Ele e Ela)

Ela - Não foste capaz (Risos)

Ele – (Risos) Não fui capaz de fazer nada, caralho. Disse: pronto, então é assim controlem-se uns aos outros…

(Muitos risos Ele e Ela)

Ela – Foi tão bom! Foi muito bom!

Ele – Foi a única coisa que eu consegui dizer. (Risos) Não consegui fazer ponto de ordem nenhum!

Ela – Aquele género, ponto de ordem não há!

(Risos cada vez mais largados Ele e Ela)

Ele – NÃO HÁ!!!!!!!! É muito triste.

Ela – Eu acho que para a semana isto vai ser fodido é para nós porque os gajos vão estar de férias, nós vamos estar com ensaios à tarde…

(Risos já a tocar na demência Ele e Ela)

Ela – Ou seja, vamos queimar os cornos a tarde toda , depois chegas aqui e tens de queimas os cornos mais uma vez.

( Conversa cortada pelo lápis azul da censura)

Ele – Pronto, é isto. Não se passa mais nada no reino da Germânia. Já não tenho mais nada a acrescentar.

(Pausa)

Ele – Como tentar respeitar o texto, ou servir o texto numa bandeja, sem qualquer tipo juízo moral sobre ele?

Ela - Isso eu acho que está a ser difícil.

Workshop E.S.T.C.

3ª sessão

Ele, Ela e o Outro no 10º andar. Local: Varanda da casa do Outro.


O outro – Depois de André finalmente ter posto isto a funcionar.

Ela – Primeiro eu tenho uma questão. Como é que ele se vai chamar? É Ele, Ela e…

Ele – O Outro. Zé tu és O outro.

Ela – Gosto muito O outro!

Ele – Bom , ontem dividimos os grupos. Lemos as cenas do Zé.

Ela – Sim. Também lemos as entrevistas do Lars von Trier e da Marina Abramovic e depois dividimos os grupos. Temos neste momento quantos grupos? E pronto a coisa começou a andar. (Risos) O trabalho duro azeda.

Ele – Diz lá tu Zé, daquilo que tu viste…

O outro – Eh pá, eu cheguei lá, eles leram um bocadinho das cenas, foi muito giro ouvir as cenas em estreia absoluta e… e… e falámos um bocadinho sobre o que era a minha adaptação, não foi? Eles fizeram umas perguntas sobre isso.

Ela – Sim que era umas coisas em que eles andavam a empreender desde o início.

Ele – Mas mesmo assim não houve tantas perguntas como…

Ela – Sim porque eles estavam com vergonha. Não viste um que tratava o Zé por você.

Ele – Não!

Ela – “… O seu texto..”

O Outro – Era… pois, nem percebi.

Ela – Eu pensei: olha que bonito chama-se a isto respeitar o autor. É verdadeiramente respeitar o autor. (Risos) Achei que eles ficaram um bocado envergonhados. Mas depois tu andaste lá por uns grupos. Eles chamaram-te.

O Outro – Sim. E reparei que havia muita gente… (surgem vizinhos na varanda ao lado) ‘Pera aí que eu tenho de ir falar com os meus vizinhos.

Ele – Vamos fazer uma pausa.

(Pausa para manter boas relações com a vizinhança)

Ele – Ok. Dizíamos…

O Outro – Desculpem lá.

Ela – É verdade que eles não fizeram muitas perguntas ao Zé mas depois eu estava a dizer que ele andou lá nos grupos.

O Outro – O que é que eu andei a fazer lá pelos grupos? Percebi algumas coisas, percebi por exemplo que conhecem pouco… alguns não conheciam o original do Moliére. Depois também percebi que já não me lembrava do original. Já não me lembrava mesmo nada. Quem era o pai quem era o filho, os nomes…

Ela – Eu, aconteceu-me que eu...

Ele – É fácil pensa no filme do Louis de Funès.

O Outro – O problema são os nomes das personagens. Como eu troquei os nomes às personagens o Anselmo já não é o Anselmo, o Valério ou o Varela não é o Valério, percebes? Aquilo já está tudo trocado na minha cabeça.

Ele – Pois, também na minha está, por isso é que eu vou sempre ao filme.

O Outro - O problema são os nomes!

Ela – Eu… eu não tinha lido o… o Moliére antes de ler o teu. Li o Moliére depois de ler o teu. E foi muita giro, porque de repente, de repente coisas que não eram muito claras… Por que é que tu optavas por determinadas soluções, quando li o Moliére clarificaram-se essas opções. Estás sempre a fazer o ponto e isso foi muita giro. Mas sim, é verdade há uns que não leram o… O Avarento.

O Outro – Ou não tinham ainda tido tempo para ler ou…

Ela – Ou não acabaram ou ba ba ba ba ba ba ba ba ba.

Ele – Ainda assim em relação aos materiais, para além do texto…

O Outro – Olha o que eu achei engraçado, eu que vim de fora, foi ver a malta ali durante uma hora, ali a ler coisas, não é? E pensei, estes gajos vão-se chatear aqui e… vão começar a… parecia que havia um ou outro que estava, o que é normal, a resistir um bocadinho, mas… mas, por exemplo a da Marina Abramovic, aquilo correu bem, porque a entrevista começa a ser divertida e tem, quer dizer, consegue ter assim um lado mais… eles iam-se divertindo ao mesmo tempo. Mas eu pensei que era muita coisa. Uma hora e tal só a ler, deitados no chão a ler, não é? E em inglês, ainda por cima. E depois fiquei espantado quando eles vão, começam a trabalhar e voltam para apresentar coisas, de repente: olha afinal… ahhhh…serviu para alguma coisa. Parece que estimulou qualquer coisa porque eles foram muito rápidos a aparecer com ideias.

Ela – Sim.

Ele – Sim, sim, sim.

Ela – Isso é verdade.

O Outro – Vocês devem ter-lhes dado uma ensaboadela…

Ela – Os dois primeiros dias foram um bocadinho dementes. Nós estávamos sempre a tentar controlarmo-nos um ao outro. O André dizia… acho que foi no primeiro dia de conversa que disse exactamente isto : nós já trabalhamos juntos há muito tempo, há materiais que já nos são muito familiares e já estamos muito codificados na maneira como falamos. Se um dispara e o outro dispara a seguir é demente…

O Outro – Pois é.

Ela – Temos de estar sempre a travar. Tanto que eu achei que no segundo dia quando lemos a entrevista dos “Mil Planaltos” do Deleuze que o Tomé… não aguentou, agarrou nas coisinhas dele e foi-se embora e eu pensei: não volta, pronto acabou-se. Mas voltou, é resistente.

Ele – Sim, porque os materiais não têm necessariamente a ver… outra vez e voltando à questão da Catarina, ela perguntava se os materiais eram sempre os mesmos independentemente dos textos. De alguma forma sim… porque… porque…ahhhh… porque aquilo não tem a ver com Moliére, mas sim com um entendimento do espaço criativo comtemporâneo, que eles ainda não têm... ahhhh… tem a ver com o nosso… com… com… não é só com a nossa ideia… com a nossa ideia de… de… de…

O Outro – De teatro

Ele – De teatro. Tem a ver com a Marina Abramovic, tem a ver com o Lars vom Trier, tens uma performer e tens um cineasta e tem a ver com um filosofo mas que também trabalha com um psicólogo ou psiquiatra… ahhh… portanto, tem a ver um bocado com o espírito do tempo, muito mais do que com Moliére… coisas que, por exemplo, “Os mil planaltos” são muito importantes… ele diz que tu não te podes esquecer de quem tu és e de quando tu vives. Tu vives interdisciplinarmente hoje em dia, portanto não podes negar.

O Outro – O que eu acho diferente entre os textos que vocês estão a dar e … e a questão que ela (a Catarina) colocou e, por exemplo, aquela reacção daquele rapaz o Tiago, no final, que diz que quer aplicar o Artaud ao Moliére mas também podia aplicar a outro qualquer, não me interessa. É perceber que há uma diferença entre vamos ler o Deleuze e agora vamos ler o Molière. O que é que isto significa. Não é aplicar o Deleuze ao Moliére…

Ele – De todo.

O Outro – Ou aplicar o Artaud ao Molière ou… É isto abre-nos uma série de ideias sobre…

Ela – Mas esse é o equivoco que eu acho que ainda há.

O Outro – E a pergunta dela eu acho que é preciso esclarecer, é preciso responder bem a essa pergunta, porque é uma boa pergunta. Eu achei logo que ela estava a tocar no nervo, porque isto pode criar um desentendimento. Pode-se facilmente cair no erro que o Tiago estava a cair.

Ele – Sim, sim, sim, sim. Sim porque não tem a ver com uma forma de concretização, não é, de todo, uma forma. É só uma tentativa de… por exemplo, uma coisa que nós falamos sempre que é…ahhh…a questão de ler um autor, se estamos a respeitar o autor ou não… E está lá na entrevista do Deleuze. Quer seja uma leitura antropológica, quer seja uma leitura altamente formal ou experimental, whatever that is, estás sempre a ler através da tua forma, nunca estás a ler sem seres tu. Por mais que tu aches que estás a respeitar o autor…

Ela – É o que TU achas que é respeitar o autor, por isso não há fuga possível.

Ele – E não tem a ver com uma forma de… de fazer o espectáculo, não é, de todo, tem a ver com uma consciência tua como artista no tempo onde tu vives. É muito mais isso.

O Outro – É mais abrangente.

Ele – Muito mais… e abre muito mais portas, apesar de parecer que te canaliza muito mais, abre muito mais portas.

Ela – E por isso é que também percebes a dificuldade que alguns têm em tomar decisões muito concretas quando se passa para a prática, apesar de eles virem carregados de ideias… o primeiro grupo do Diniz, da Yolanda e do Fábio, nisso foi muito feliz que acertaram lá numa zona fisgada e parece-me que são os que estão mais encaminhados, mas os outros o que tu sentes é que aquilo abre-lhes tantas possibilidades que eles não são capazes de escolher. Ainda. Ficam baralhados com tanta hipótese Ficam à toa quando têm de optar. Também a coisa de ninguém lhes dizer: agora fazes assim…

O Outro – Mas olha que eu nem em todos senti que havia uma apropriação dalguma coisa. Se calhar houve um ou outro grupo, não te sei dizer qual que senti que não aproveitaram nada, pelo menos por enquanto.

Ela – Ou que ainda não estão a conseguir articular bem os materiais todos que foram lançados para a mesa e que aquilo ainda está uma pápa.

O Outro – Mas também é absolutamente legitimo que eles cheguem à conclusão de que nada daquilo lhes interessa…

Ele – Obviamente.

Ela - Com certeza. Mas também essa foi uma conversa que tivemos com eles desde o início. Se eles decidirem que querem fazer uma apresentação absolutamente formal o nosso trabalho ali é dar-lhes os materiais para que isso seja possível de… de não ser uma coisa só porque sim. O gesto criativo não compreende uma ingenuidade..

Ele – A questão é que hoje em dia é impossível apresentares qualquer coisa sem a justificares, mesmo que a justificação seja, nós falamos sempre no caso de Jeff Wall, mesmo que a justificação seja não há justificação, cada um pode interpretar isto à sua maneira. Mas isso já é uma justificação em si… e também isso tem de ser aprofundado. Por que é que cada um pode ler à sua maneira? Não é só, ah cada um pode ler a sua maneira, tens de justificar porquê. Mesmo que não justifiques o trabalho. Como faz o Romeo Castellucci, de alguma forma. (Há um telefone que toca) Queres atender o telefone?

(Pausa para O Outro ir atender o telefone)

Ela - Mas eu também acho que não é fácil, chegas lá dão-te uma porrada de textos…

O Outro – Não é nada fácil. Mas deixa-me só pegar naquilo que vocês estavam a dizer… eu estava-me a lembrar de uma coisa que é, também não nos podemos esquecer que o workshop é dado pelos Praga e há uma linha, naturalmente… ou não? Vocês dizem. Ah eles podem pegar no Molière e fazer o que quiserem….

Ele – A única linha que tu tens, e podes dizer que é a linha da Praga é TENS DE JUSTIFICAR CADA COISA QUE FAZES… mesmo que seja uma ausência de justificação.

O Outro – Sim mas um Workshop dado pelos Praga ou um Workshop dado por, sei lá pelos Artistas Unidos ou por… pela Cornucópia é diferente, ou não é?

Ele – Não sei o que é porque nunca fiz nenhum com os outros.

O Outro – Eu também não sei porque nunca vi workshops. É uma questão que vos faço não sei se…

Ela – Sim mas eu acho que isso é uma falsa questão…

O Outro – Vocês dizem: ah eles fazem o que quiserem, eles fazem o que quiserem mas não é bem assim. Vocês não são inocentes!

Ele – Eles fazem o que quiserem mediante uma plataforma de entendimento.

O Outro – Vocês são, no fundo, orientadores do Workshop e vocês não são… não é que não tenham identidade, vocês têm uma identidade.

Ele – Mas só passa por isso, eu estou-me a cagar se tu fazes aquilo com uns figurinos de época, tem é de me ser justificado. Não pode ser só porque o Piccolo Teatro di Milano faz… não pode ser isso, não é suficiente…

Ela – E nesse sentido quando entregamos aqueles textos estamos a salvaguardar o espaço da nossa identidade. São textos que circulam entre nós, aos quais nós recorremos…

O Outro – Mas se têm um discurso de: não, nós só estamos aqui para fazer perguntas, eu acho que não é assim tão inocente.

Ele – Claro que não é inocente!

Ela – Não é inocente de todo!

O Outro – Vocês não são assim tão inocentes. Vocês estão a apresentar uma série de textos…

Ele – Os textos também não são inocentes.

O Outro - Estão a apresentar-se como Praga, mostraram os vossos espectáculos e não sei quê… Está-se a criar uma linha… está-se a mostrar qualquer coisa, os vídeos que vão mostrar não são do espectáculo do Strehler. Isso não é nada inocente:

Ele – Sim, mas podiam ser vídeos de outras companhias. Se eu tivesse acesso a vídeos que eu achasse interessantes.

O Outro – Interessantes para ti?

Ele – Claro. Para mim e para a Cláudia neste caso. A Praga não tem um desejo único tem 10 mil desejos diferentes.

O Outro – Mas isso também é uma ideia. Isso também é uma identidade.

Ele – Obviamente!

Ela – Pois é!

Ele – Mas uma identidade absolutamente aberta.

O Outro – Mas quando vocês decidem: agora divido-os em grupos e não dirijo aqui ninguém, só faço perguntas. É completamente diferente de um workshop onde há um encenador que diz: tu vais fazer assim, tu assim…

Ele – Há uma linha sim, mas é uma linha muito mais aberta. Não é uma linha fechada. É uma linha aberta onde cada um pode fazer aquilo que quiser. Obviamente mediante, também, as nossas questões e o que nós achamos que é fundamental para eles como futuros agentes criadores…ahhhhh… ahhhhh… não basta fazer, não basta fazer, vão ser aniquilados logo à partida… porque se não tens um discurso…

O Outro – Pois, pois, pois… Eu acho que uma das mais valias que vocês podem ter, no trabalho com eles, é precisamente, a ideia de, vocês são um grupo de quatro pessoas ou três ou o que for e vão ter de trabalhar juntos e não há aqui ninguém que seja mais forte…

Ele - Exactamente.

O Outro – Porque naquele grupo, por exemplo dos quatro sentia-se que havia um que estava a puxar mais p’ra ele…

Ele – Pois, pois.

Ela – Mas por isso é que nós dizíamos: tu se tens uma ideia tão concreta, sabes tão bem o que queres, se calhar mais vale fazeres sozinho…

Ele – Mas nesse sentido sim, não é , de todo, a nossa linha porque nós somos absolutamente comunitários. Não há ninguém que mande os outros fazer. Isso não existe.

O Outro – Sim, mas não passa pela tua cabeça fazer um espectáculo… fazeres o TEU espectáculo?

Ele – Mas eu faço! Ela faz! Fazemos, quando queremos fazemos. Eu vou encenar uma ópera sozinho. Eu já fiz monólogos sozinho, não pus ninguém lá em co-criação.

O Outro – Por isso é que se o outro rapaz disser: eu quero fazer sozinho, também é válido.

Ele – Mas então, se calhar, está no sitio errado porque o nosso propósito ali é trabalhar sobre o Molière e trabalhar em conjunto sobre o Molière.

O Outro – Ah, pronto:

Ele – Não é… não é ensinar a ser encenador, isso é o que a escola deve fazer, mostrar-te várias linhas de trabalho e ensinar-te a ser encenador. O que nós estamos ali a fazer é um trabalho anterior a isso, que é, ok, queremos lutar, de alguma forma contra essa figura tutelar, embora individualmente cada um o saiba fazer, mas… mas queremos fazer um trabalho em conjunto com pessoas.

Ela – Por isso é que eu acho que, agora, a coisa vai ficar cada vez mais dura. À medida que as ideias vão avançando e que eles vão ficando, cada um deles, mais seguros e afirmativos no que querem, o nível de negociação com os outros e até connosco vais ser mais duro, mais difícil. Mas essa dificuldade faz parte exactamente deste processo, também aprenderes a fazer cedências quando estás com um grupo … e os outros, também a ceder e arranjar ali uma plataforma que seja comum.

Ele – Ou então o contrário, teimar, teimar, teimar até os outros se sentirem apaixonados pela tua ideia.

Ela – Seja por exaustão, seja por desistência do outro é defenderes a tua ideia... nós costumamos dizer, um bocadinho na brincadeira um bocadinho a sério, que vamos para a guerra. Ou seja tens ali o teu material e agora vais partir a cabeça a toda a gente para que o teu material seja aceite, ou então vais perceber: olha afinal há uma ideia mais interessante que a minha. Também é importante não haver pudores em desistir de uma ideia, não ficar a teimar só porque a ideia é tua… se alguém chega com uma ideia mais interessante que a tua é importante saberes desistir da tua em prol da outra…

Ele – Isto também serve para nós, não é um workshop só para eles. Serve para aprendermos, revermos coisas, reformularmo-nos, termos novas informações. É como o Pacheco Pereira, sair da esquerda e ir para a direita. Fazer de espião.

O Outro – Foi uma das razões por que eu quis lá ir… para me obrigar a falar um bocadinho sobre… para começar a entrar outra vez, estou há um tempo distanciado do texto. Agora vamos começar a entrar nisto… começar a articular coisas e a explicar olha eu fiz isto por isto…

Ela – Sim. Depois coisas que nós internamente já… já tomamos como garantidas, já nem sequer justificamos isso, internamente, uns com os outros. E nem pensamos muito sobre a coisa, de repente ali, és confrontado com a pergunta: desculpa eu não estou a perceber, mas isso porquê? e obriga-te e esse exercício de revisão da matéria dada.

O Outro – Bem, mudamos de tema? Há mais temas?

Ela – Eu fiquei preocupada com o Tiago ontem… porque… não sei, acho que devíamos falar com ele… pá porque, não sei … para esclarecermos que ninguém está contra ninguém. É só trabalho. Isso também é uma coisa que é difícil de compreender, porque às vezes as discussões ficam muito acesas…

O Outro – Mas é preciso questionar, é preciso…

Ela – Claro que é!!!! Mas também é preciso esclarecer muito bem que a coisa não é pessoal, é discussão de ideias de trabalho.

Ele – E quando te propões estar ali, propões-te a isso.

Ela – Era como dizias no outro dia: uma coisa é saber que se conversa muito, outra coisa é sofrer a conversa. Conversar muito implica também entrar em desacordo profundo e em choque profundo.

Ele – Ficamos por aqui hoje. 3, 2, 1. Varanda de Benfica à vista o British Hospital, o BPI , a Galp e a 2ª Circular……………………………


Workshop E.S.T.C.

2ªsessão

Mais uma vez Ele e Ela na Helena Rubenstein

Lado A


A Canção de Lisboa
De Filipe la Féria


Ele – Ok começa o dia dois…

Ela – Ponto alto, ponto altíssimo do dia de ontem: La Féria é Arte ou não?

Ele – Sim esse é um ponto muito alto.

Ela – Muito alto, muito alto. E não se perceber por que é que não é.

Ele – Por que é que não é e é entretenimento e por que é que o entretenimento há-de ser visto como melhor do que a arte e não simplesmente como uma coisa diferente.

Ela – mas isso por acaso bateu-me imenso… Mesmo… E comecei a ficar irritada com aquilo , houve uma altura que eu já só berrava. Só dizia: oh pá por favorrrrr… por que acho que há muitos equívocos também, na cabeça deles, ainda… no sentido em que…Não são equívocos estruturais - que também há acho eu – mas equívocos no sentido de não saberem muito bem o que querem, como querem, para quê querem. Se calhar faz parte não é?

Ele – Sim mas acho que já… Acho que ontem foi muito mais elucidativa a conversa. Muito activa .

Ela – Sim, porque as pessoas também se implicaram mais já estava tudo mais à vontade e já toda a gente… E houve mesmo ali momentos em que a coisa ferveu!

Ele - Não percebi se houve desistências ou não.

Ela – Não! Eu, parece-me que o Tomé desistiu

Ele – Pois também acho que sim. Desistiu.

Ela – A meio do dia de ontem… mas as outras pessoas que faltaram um deles foi aquele tipo, não me lembro do nome dele, da Madeira .

Ele – Ah sim, sim.

Ela – Ele tinha-nos avisado que não ía…

Ele – Pois, pois, pois.

Ela – E as outras duas mandaram … a outra é a Yolanda, mandou um recado pelas outras meninas a dizer que não podia ir mas que hoje ia…

Ele – Bom… Uma coisa também é importante… Perceber que não podemos montar o Moliére, o texto todo do Moliére, mas sim trabalhar com aquelas cenas. Isso leva para um caminho completamente diferente, uma coisa é montares o texto todo…

Ela – Claro.

Ele - …Outra coisa é teres aquelas cenas que.. à partida tens de que montar as cenas com uma outra lógica. Não podes montar..

Ela – Com certeza.

Ele – Isso também foi importante.

Ela - Pois e também gostei de chegarmos aí… não ser uma coisa que tivéssemos os dois decidido à priori… Sabes? Que fosse uma coisa que fosse descoberta ali que saltasse das conversas que estávamos a ter… isso também gostei muito…ahhhhhh… mais coisas que eu gostei muito do dia de ontem…a voz de pessoas que não tinham aberto a boca no dia anterior ouvir-se…

Ele – Sim.

Ela – Com questões e interessados … Foi bom…Pronto há sempre uns que são mais efusivos… equívocos de que tudo é válido também alguns a saltar..

Ele – A Arte Metafísica!

(Risos Ela)

Ele – A questão da forma, outra vez
.
Ela – Sim, outra vez, outra vez…

Ele – Do Belo, no fundo é o Belo. Fazer porque é Belo.

Ela – Mas sabes que eu nem…eu acho que nem é porque é Belo… e também fiquei contente e acho que é importante ter-lhes dito que eu não quero que eles façam nada à la Teatro Praga.

Ele – Whatever that means!

Ela – Sim, whatever that means, ou… Mas percebes o que eu estou a dizer?

Ele – Sim, sim, sim, sim

Ela – No sentido que.. que não quero nada que me convençam com ideias… Que eles pensem para mim. Quero que eles pensem para eles. Porque acho, sinto, intuo que há ali possibilidades de isso acontecer. Umas pessoas fazerem o que acham… o que acham que nós esperamos que eles façam.

Ele – Mas o que é estranho é que por exemplo…ahhhhh…ahhhh…coisas fragmentárias e objectos do quotidiano etc.deixam de ter umaaaaa… deixam de ter uma lógica conceptual e passam a ser… coisas puramente formais.

Ela – Sim.

Ele – Mas isso é um bocado estranho. Como é que tu deixas de pensar sobre essas coisas? Como é que… Como é que elas passam a ser, pronto, são um efeito. Não há um… não há um pensamento.

Ela – Pois, não sei muito bem. Quando fizemos a pausa para ir fumar lá fora a Margarida estava-me a perguntar: então quando vocês dizem que não marcam as coisas, ela tinha ido ver o Quarteto, o Quarteto tinha uma ordem muito definida…

Ele – Se calhar podemos por dentro do parque não se paga.

Ela – Para quê?

Ele – Não sei qual é a saída em que ele vai sair.

Ela – Mas ele há-de dizer alguma coisa… Ahhh… Ela estava-me a dizer: Por exemplo vocês faziam a dobragem quando era a dobra… naquela zona de texto, porque aquela zona de texto é que batia nas bocas. Mas isso não tem a ver com marcação de cena tem a ver com mecanismos que tu recorres para o espectáculo.

(conversa cortada pelo Lápis Azul da censura)

Ele – Eu acho que ainda há um preconceito em relação à arte e à intelectualidade e ao não abranger muita gente… Não… Não …É um bocado estranho Esses ideais do produto cultural como…como…como…

Ela – Um produto massificado

Ele – Sim um produto massificado.

Ela – Ou melhor um produto para massas.

Ele – Sim para massas. Pode ser. Mas pode também não ser.

Ela – pode ser mas não tem de ser. Ou seja, tu não tens de produzir com esse sentido, não deves estar a criar a pensar que… sim mas isso vem de uma lógica completamente nhec… que é a lógica que te é imposta. Tens de ter não sei quantos espectadores, tens de fazer não sei quantos espectáculos por ano… (toca o telemóvel dele) olha será o Zé.

(Pausa para o Zé entar em cena)

Ele – Voltámos!

Ela – Mas tem a ver com uma lógica que te impõem… que de repente… era aquilo que dizia a Joana que é : o La Féria tem as costas quentes porque tem não sei quantos espectadores. Oh pá bestial que ele tenha não sei quantos espectadores. E é bom que venda e ainda bem que vende mas tu não podes nem queres entrar nesse campionato.

Ele – Pois claro.

Ela – Não podes é exigir que se compita com isso.

Ele – Pois, não podes, não podes.

(Zé finalmente entra em cena)

(Conversa cortada pelo lápis azul da censura)

Ela – E continuas a achar que vão desistir muitos?

Ele – Não sei, não sei.

Ela – Eu agora já acho que vão desistir menos… eles ontem estavam todos… todos entusiasmados, e isso é bom! Tem o seu valor… Mais coisas importantes… gosto muito da confusão que lhes faz o que é que o Zé fez com o texto do Moliére… gosto imenso… eles sempre a perguntarem: Ele rescreveu como e porquê?

Ele - Sim isso é fora.

Ela – O Zé hoje vai ser absolutamente bombardeado. Aquele género então e não sei o quê? E mais não sei o quê?

Ele – Não o que me faz mais aflição é que parece que… é sempre a lógica … agora já não usam a palavra desconstrução mas há sempre uma lógica de que estás ali para fazeres o que quiseres com um texto… para desconstruires um texto.

Ela – Pois há, pois há… mas era nesse sentido que eu te dizia…

Ele – Isso é absolutamente fora porque… parece que às vezes não entra… tu estás sempre a ler o texto à tua maneira mesmo que a lê-lo supostamente de acordo com as intenções do autor… estás sempre a lê-lo à tua maneira…

Ela – Sim!

Ele - … E qual é a diferença entre tu fazeres uma coisa ou fazeres outra é sempre à tua maneira!

Ela – Claro! Mas isso tem a ver com a recepção que eles… recepção absolutamente formal quase estética…

Ele – Mas isso é bom!

Ela – Que eles fazem do… os que conhecem o nosso trabalho, que fazem dos trabalhos n’é porque quando… quand…

Ele – Não, mas pode ser. Isso pode ser. Eu acho que tu podes ter uma… podes ter uma, ummm, ummm, podes observar um espectáculo de diversas formas, quer seja formal, quer seja simbólico, ouuuu… ouuuu altamente hipertextual etc.

Ela – Com certeza que podes.

Ele – Agora tu como criador tens de ter muito cuidado. Podes optar por fazer formalmente um trabalho…

Ela – mas isso é a velha questão que lhes estamos sempre a dizer. Se quiseres fazer a reconstrução histórica, faz…

Ele – Mas tens de justificar.

Ela – Mas explica-me porquê…

Ele – Pois, pois, pois, pois.

Ela – Explica-me muito bem por que é que a queres fazer.

Ele – Pois, já não basta… Se calhar, na verdade, será muito mais interessante fazeres uma reconstituição histórica… hoje em dia. Não sei, eu vejo-os a falar sobre… ahhhh, os objectos quotidianos e, e as tais lojas do chineses etc. e aquilo já está tão garantido, já não tem questionamento nenhum…

Ela – Pois.

Ele – Se calhar mais vale fazer o trabalho inverso, que é monta-lo de uma forma absolutamente antropológica e justifica-la ao máximo.

Ela – Sim, sim…

Ele – Isso será provavelmente muito mais… ahhhh interessante dialéticamente do que… um simulacro constante de trabalhos anteriores ou da Pina Bausch etc…. também há um certo misticismo, se calhar, à volta das coisas….

Ela – Eu depois também gosto de sentir que há… há uns quantos em ebulição e que estão fodidos por não ter tempo para…p’ra ir à procura de coisas… isso também foi muito lindo ontem… A Ana é que me dizia: Eu agora pá vou para casa cheia de coisas na cabeça e não consigo dormir, ao mesmo tempo também não posso ir fazer nada porque amnhã tenho de estar aqui na escola às 9 da manhã… Não dá, não dá! – dizia-me ela. (passamos de carro pela avó dela) AHHHHHHH ! A minha avó!

Ele - Oh! A avó Mila!

Ela – Que querida!

Ele – Coisa mais querida do mundo.

(divagação gastronómica sobre o cozido à portuguesa da avó Mila)

Ele – Bom na verdade foi tanta coisa ontem.

Ela – Foi muita coisa, foi. Mas foi assim muita coisa…

Ele – Mas foi activo, foi activo…

Ela – Foi super activo.

Ele – Isso é muita bom!

Ela – Eu estava com imenso medo porque como começamos com a…a…

Ele – Eu julguei…

Ela - … Com a entrevista do…

Ele – Eu julguei que metade das pessoas não aparecesse.

Ela – Pois isso eu também achei. E depois achei que metade das pessoas ia-se suicidar depois da entrevista sobre os “Mil Planaltos”. Pensei, pronto, agora é que isto vai rebentar… os que cá estão vão aproveitar a pausa para cigarro para agarrarem nas coisinhas e irem à vida deles. Mas não… não! Gosto muito da atitude não percebi falem um bocadinho sobre.

Ele – Pois, pois, pois…

Ela – Acho boa onda. E foi de facto super activo, mas foi activo em catadupa n’é? E nem sei como é que os saltos se deram! Sei que houve um bloco que começou no Deleuze e acabou no La Féria.

Ele – Mas, se calhar, devíamos hoje fazer um exercício que era: pensar porquê fazer Moliére à la Moliére. Como é que tu podes justificar fazer Moliére a lá Moliére, ou não fazer o Moliére…ahhhhhhh . com estás coisas garantidas da comtemporâneidade, mas nós também não estamos a fazer o texto, a verdade é essa, é impossível!

Ela – Sim e não podemos ter essa ilusão de que estamos a fazer Moliére. De facto não estamos. Estás a usar Três cenas para cruzar com outros materiais

Ele – Tens razão, tens razão.

Ela – E no caso de pegarmos também nas cenas do Zé e de cruzarmos com as cenas do Zé com as cenas do próprio do Moliére…

Ele – Também gostei muito quando eles nos perguntaram o que é que nós gostávamos na actividade teatral portuguesa.

(Risos)

( conversa cortada pelo lápis azul da censura)

Lado B
Ou o que é feito de ti Ruth?

Ele – Dizia a Cláudia que quando entrou depois da pausa para cigarros o Tiago falava sobre a Ruth Rita…

Ela – queria fazer um espectáculo sobre o que é que tinha acontecido à Ruth Rita, quem era a pessoa do Macaco Adriano, por que é que as pessoas nos anos 90 vestiam calças aos quadrados e ainda quem é que subia o pau de sebo no Big Show Sic.

Ele – Não pode! Eu disse que se isso fosse de uma modo puramente formal e intuitivo não pode sem justificar essas decisões.

Ela – Eu disse que se assim fosse que não ia ver os espectáculo porque queria continuar a gostar dele…

Ele – Mas até ia ver!

Ela – Vais ver?!?!?

Ele – Vou, gosto da Ruth Rita e quero saber quem é o Macaco Adriano.

Ela – Eu queria imenso é que ele me convidasse para ser a Ruth Rita do espectáculo dele.

Ele – Mas ele quer a Ruth Rita verdadeira!

Ela – Mas isso já é domínio das Artes Plásticas!

Ele – É verdade, é verdade!
(Risos)

Ele – Tens mais alguma coisa a acrescentar?

Ela – Não.