quinta-feira, 28 de julho de 2011

Murder on the dance floor

Como todas as boas histórias, esta é motivada por uma necessidade única e avassaladora: reaver o que se perdeu. É como a repetição de um assassinato. A repetição de um assassinato antigo. Os irmãos de uma tribo antiga, governada por um pai tirano, revoltam-se e matam o seu carrasco, e depois assam o comem o cadáver (é este o pecado original, o conhecimento secreto por detrás de cada fé). Eu sou um assassino. As minhas mãos estão cobertas de sangue.

O princípio da Lei é o fim do assassínio. A memória do primeiro assassinato foi sublimada, mas reemergiu, foi recuperada, com o passar do tempo, primeiro com os sacrifícios animais, em que o crime era reencenado, com o animal sacrificado a fazer o papel do pai, sendo depois cozinhado e comido; depois nos cultos pagãos em que os deuses são presentificados com uma cara humana; e depois no monoteísmo, em que o pai regressa, um homem com uma cara, o lider da tribo, vingativo e assassino. A história da espécie é a história da recordação amnésica desse crime.

sexta-feira, 22 de julho de 2011

Hoje em Guimarães às 21:30 no Espaço Convívio

"O último álbum do Fausto chama-se A Ópera Mágica do Cantor Maldito e vamos pô-lo a tocar esta noite"


inserido no Box Project

formador de teatro: Pedro Zegre Penim
formadora de iluminação: Wilma Moutinho

mais info aqui: http://www.facebook.com/#!/event.php?eid=136182669795472

quarta-feira, 20 de julho de 2011

Terceira Idade (mais um pedacinho)

C: Adensa-se a trama. E fica tramado. Apareceu um morto. E também um vivo. No meio dos insectos e por baixo dos cacaueiros, bambús e acácias. Está na altura de chamar o detective. Um polícia capaz de nos explicar a narrativa.

B: O meu nome é Bob e chamaram por mim. Algum crime?

C: Infelizmente temos a declarar um óbito, uma ressurreição, um final, um falso final e uma tragédia.

B: Estão identificados os perpe… perpre… preper… perpertra… perpetradores de tanto acto criminoso?

C: Sumiram-se. Há actos mas não há agentes.

B: Agente é da polícia. E eu também. Estou a ver que voltamos a ter um filme entre mãos. Como é que vamos resolver isto? Primeiro, definir prioridades. Quando não há vestígios, puxa-se pela imaginação. Fazem-se cálculos de probabilidades e tenta-se chegar aos nomes. Depois de encontrados os nomes, procura-se os corpos. E finalmente a localização dos mesmos nesta esfera armilar que é uma representação do mundo e da vida. Não nos podemos esquecer de quem somos, de onde vimos nem onde estamos. O contexto é crucial. Se há vida, ela é tanto eu como tudo o resto. A seta não se move só numa direcção. Eu por exemplo nunca quis ser polícia. Sempre quis ser ladrão.

A: Então és tu o perpe… perpre… preper… perpertra… o perpetrador?

B: Isso seria fácil de mais. E já nada é fácil. O facilitismo já era.

Catequese - Décimo Sétimo Dia

Hoje:

último Mentecapto com André e. Teodósio.

"O espectáculo CONSERVATÓRIO do Teatro Praga é mau. Justifique. (máx. 1000 caracteres)"

terça-feira, 19 de julho de 2011

Catequese - Décimo Sexto Dia

Começamos hoje a última semana de Catequese, curso intensivo de verão, com:

Styling: Como se aprumar para ir à igreja,
com Joana Barrios.
Cão Solteiro, à conversa com Paula Sá Nogueira e sua sobrinha Matilde.

segunda-feira, 18 de julho de 2011

Catequese - Quarta Semana

- Que sejam felizes para sempre. Sendo que para sempre é impossível porque ninguém fica aqui para sempre. E não vai ser ao mesmo tempo. Um deles fica e outro vai. É sempre assim. Há-de vir o funeral. E não conheço ninguém que num casamento não se pergunte: quem é que vai morrer primeiro? A vida é um corrida que só podemos ganhar se matarmos aqueles que amamos. Os que perdem dão à luz. Chama-se criar. Ou ainda: suicídio. Adoro as evidências. Vou lá sempre parar. É o síndrome da árvore no deserto. Pode beijar o noivo.

quinta-feira, 14 de julho de 2011

Catequese - Dia Doze

C: Arnold, anda cá.

S: Eu não estou aqui.

C: Porque é que não deixas a nossa filha casar?

S: A nossa filha?

C: Não vês que ela ama. Não vês que ela precisa de consumar o seu amor.

S: Qual amor?

A: Eu amo a minha profissão. Quero casar com o teatro!

S: Estás a falar a sério?

A: Eu amo o mundo. Quero casar com o mundo!

S: Só podes estar a gozar.

C: Então, Arnold. É a tua filha.

S: Mas quem é que é o Arnold?

C: És tu.

S: Mas quem é que sou eu se eu não estou aqui? Quem é que escreveu isto? Detesto comédias de guerra. Detesto comédias sobre a identidade da comédia. Prefiro as comédias de portas. Prefiro não saber quem é que está atrás da porta do que não saber com quem é que estou a falar.

A: Mas as casas já não têm portas. As casas já não têm tecto, nem chão, nem parede, nem penico.

in Terceira Idade

terça-feira, 12 de julho de 2011

Catequese - Terceira Semana

B: A historinha da comédia é: eu encomendo uma comédia de guerra para o meu casamento. Só que o meu casamento não acontece e portanto a comédia não se faz. A comédia é escrita. Mas não é feita.

A: Não. O casamento acontece mas a sogra ou a mãe ou o pai não gostam de comédias de guerra e a comédia não se faz.

S: Mas escreve-se.

C: Não é nada disso. A comédia é um casamento. De guerra. E o casamento está escrito. Mas não é feito, porque a sogra ou a mãe ou o pai não gostam de casamentos.

S: Só gostam de funerais.

C: Exactamente.

B: Então eu não me vou casar?

S: Não. Vais morrer.

A: Não. A comédia é: isto não foi escrito e nós não estamos a fazer isto. Não estamos aqui agora. Tu não existes.

B: Eu não existo?

C: Não. Tu existes mas não és o que és porque nós não sabemos ler. Somos analfabetos.

A: Já sei: isto é uma comédia escrita por analfabetos que é um casamento onde vai ter lugar uma comédia de guerra feita por velhos.

S: Gosto.

C: Não, já sei. A história é: chegámos atrasados e o casamento já aconteceu e a comédia já acabou. E é por isso que ainda estamos aqui. Mas já não somos nós.

A: Porque já aconteceu.

C: E não estamos aqui.

B: Quer dizer que eu já casei.

S: Tu já morreste. E isto é um funeral.

A: Que é uma comédia.

C: De identidades. É uma comédia de identidades. Na guerra.

S: Num funeral.

C: E no papel.

A: Uma comédia que é feita mas não foi escrita.

B: E eu não me posso casar?

A: Tu podes tudo. Isto é uma comédia!

in Terceira Idade (1ª versão)


Hoje: Terceira Idade. J.M. Vieira Mendes

Amanhã: Mentecapto. André e. Teodósio

Depois de amanhã: Criar intervalos: políticas da obra de arte. Vanessa Brito.

Depois de depois de amanhã: Who needs realism when you can have fakism? Cláudia Jardim.

Depois de depois de depois de amanhã: Sabbath.


"the sun also rises," "[there's] nothing new under the sun" in Ecclesiastes

segunda-feira, 11 de julho de 2011

When Romeo and Juliet meet the Exorcist

The Dybbuk

Set in Poland at the end of the 19th century, "The Dybbuk" tells the story of two ill-fated lovers -- Chanon, a penniless but devout student of Jewish mysticism, and Leah, the young woman he adores. Betrothed unknowingly to each other since birth, the two are denied their fate when Leah's father breaks the marriage contract and offers his daughter to a richer man.

Upon hearing the news, the heartbroken Chanon, who is weak from prolonged prayer and fasting, dies instantly. His life cut short, Chanon's soul becomes a demon, or dybbuk, which enters Leah's body in an attempt to gain possession of her love for eternity.

What follows is an attempt by the deeply pious Hasidic rabbis to exorcise the dybbuk from Leah so she and her new wealthy fiance can proceed with their marriage. Leah must confront the choice between marriage to a man for whom she feels nothing or an unworldly union with her dead lover's spirit.

domingo, 10 de julho de 2011

Israel is unreal --> Israel is real --> Israel is too real

"Israelis must find a way to detach their nation from their story, and live in the here and now; oterwise the Third Temple may go the way of the other two. This was always the danger of turning the Book back into a temple, even if the Zionists did not realize it. The concept of Israel had, in a sense, been hermetically sealed, stored in a shrink-wrap for two thousand years, where it was pickled and preserved and remained pristine. Now the Jews have returned their holy idea to the street, where, as is happening with the Hebrew language, it has been barbarized and filled with slang. In the long run of generations, this will mean a language that is filled with Hebrew but is not exactly Hebrew - not in the old sense - and a state that is filled with Jews but is not exactly Jewish. (You can't really have a Jewish democracy anyway). "

Rich Cohen, Israel Is Real

sábado, 9 de julho de 2011

Shoah

the first time the word HOLOCAUST was used:

"The first is from Time Magazine, November 17, 1947. It tells of a fire in Bar Harbor, Maine, that killed thousands of lab mice - brown mice, white mice, black mice:

After the blackened buildings cooled, Director Clarence Cook Little walked sadly among the cages of roasted or suffocated mice. A few "little fellows" looked up with frightened eyes, among them two elederly fat yellow mice. But survivors were few. Out of the 90.000, only 55 were alive. The mouse holocaust was a major disaster to researchers in medicine and biology..."

Israel is Real, Rich Cohen

sexta-feira, 8 de julho de 2011

Catequese - Dia Oito

Cyborg politics is the struggle for language and the struggle against perfect communication, against one code that translates all meaning perfectly, the central dogma of phallogocentrism. That is why cyborg politics insist on noise and advocate pollution, rejoicing in the intimate fusions of animal and machine.
Donna Haraway

A nossa alma está lá fora. Vamos expulsar esta mistela de dentro de nós! Que achamos que é nós próprios. Aquela mistela russa encostada a um samovar que só aquece por dentro… não é nada. O interior não é nada. Nós somos uma relação externa do nosso corpo consigo próprio. É isso que somos quando nos arranhamos, mordemos, gememos, amassamos, escovamos, masturbamos, masturbamos, masturbamos, mas não uns ao lado dos outros, e não sentados uns ao lado dos outros. E a pele solta-se e não há nenhum plano para fazer a pele voltar, e o que se segue é a pele 2 e depois vem a pele 3. Não nos regeneramos: ficamos. Não fica novo nem fica velho, fica, só isso. Quando morremos também não perdemos nada. Significa apenas que não fica mais nada. E também não significa que o nada não se regenera. Também só fica. Fica uma coisa a que chamamos morte. A alma é uma relação externa do corpo consigo próprio. A alma é uma relação externa do corpo consigo próprio. A alma é uma relação externa do corpo consigo próprio. No interior da vossa alma não encontram nenhuma relação com o que quer que seja lá dentro. Nem lá fora.

René Pollesch

Hoje: Who needs realism when we can have fakism com Cláudia Jardim.