segunda-feira, 26 de maio de 2008

Conservatório - Comments

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(...)Por outro lado, Conservatório do Teatro Praga, apesar de ser um espectáculo com momentos de grande espontaneidade e comunicação, parece perdido nas referências conceptuais que convoca. Declarando ter como ponto de partida "um texto de Peter Sloterdijk em que [o autor] aborda a alegoria "cavernosa" da estufa", o Teatro Praga reformula o mito de Prometeu usando os já mais que estafados recursos estilísticos do costume (paródia, ironia, citação, alusão...), resultando tudo numa repetição das suas habituais estratégias performativas. Ainda que haja alguns momentos de grande encanto e felicidade (José Maria Vieira Mendes está (quase) sempre sentado ao fundo, com ar de aborrecido, naquele que é um gesto de, se não de matar o autor, pelo menos pô-lo de castigo; o solo de uma bailarina relutante (Joana Barrios) é irresistível; a canção final de André E. Teodósio é extraordinariamente tocante; a presença de um cão em palco cria algums momentos de humor...) o registo geral é de autocomplacência e de alguma gratuitidade. É urgente que os Praga reinventem o seu veneno: temos saudades."
Rui Pina Coelho (crítico e professor no conservatório) in Público 25-05-2008

Resposta:
O que eu acho incrível é através da tentativa de boa disposição demitir-se de uma leitura crítica que se deveria querer high-brow ou de elevado mérito (mas como a meritocracia está em penúria desde que o meu familiar Martins da Cruz cometeu tamanha imprudência).
1º O espectáculo não está perdido nas referências conceptuais que convoca; parece é que o crítico está perdido/ausente das referências conceptuais que são convocadas, que podem ser Sloterdijk, ou Virilio, ou Platão, ou Hegel. The tale is as old as time.
2º O espectáculo chamado Conservatório não reformula o Prometeu usando diferentes estilos. Conservatório convoca Prometeu para justificar o monstruosidade dos estilos inerentes à teatralidade antiga do Teatro Praga. (Intencionalidade anunciada no prólogo da monstruosidade). Os estilos repetidos não passam de uma "antológica" da Praga (é o que dá ter saudades do que não se viu! e/ou nunca se gostou!) que, em jeito Zizekiano, não matam por lhes ser autorizado espaço para justificarem. "A monstruosidade do reticulado só pode ser monstruoso para quem quer entrar para o palácio de cristal", poderia ser esta a voz de Sloterdijk. Ao qual eu responderia, qualquer bolha potencia em termos espaciais o que se poderá desenvolver numa dromologia globalizadora.
3º E o que tem este espectáculo a ver com a Europa? E com as disciplinas artísticas? E com o conservadorismo? Hmm. Tanta coisa fica por dizer.
4º Esta resposta não se deve ao facto de Pina Coelho não gostar do espectáculo. Oh, se fosse assim teria de ter respondido a muitos outros (relembro que no último espectáculo do Alkantara era-nos anunciado que "Wagner ganhava": como se alguma vez estivessemos na mesma corrida!); trata-se isso sim de não autorizar que um trabalho meu seja mediatizado por discursos mediocres (e não se trata de dominar a liberdade de expressão, embora a ideia não me seja de todo má; trata-se que tenho de entregar críticas de jornais nos relatórios de apoio estatal, críticas que todos sabemos não vão ficar para história, mas que servem para o momento).
Não nos admiremos então que as secções culturais nos jornais (e na verdade, em tudo) estejam em corte. Cada um cria os leitores que merece. E é isto o conservatório (o último a rir, ri melhor).
André e. Teodósio