segunda-feira, 30 de junho de 2008

Fragmento a partir de um post

Escritor No more, never more. Vamos acabar com a arte do quotidiano, com as colecções lá de casa. Vamos acabar com a parafísica. Vamos acabar com o jogo. Vamos acabar com a sorte. Vamos acabar com a anarquia. Vamos acabar com a exaustão e os criadores exaustos. Vamos acabar com o silêncio. Vamos acabar com as questões em torno do processo. Vamos acabar com as questões. Vamos acabar com os mistérios. Vamos acabar com o intertexto. Fim das metáforas. Vamos acabar com as posições 'anti-narrativa'. Vamos POR FAVOR acabar com as 'petites histoires', as historinhas. Vamos acabar com a ironia. Vamos acabar com a indeterminação. Isto não é ironia. Vamos acabar com a ironia. Eu não me estou a rir. Vamos acabar com as personagens. Vamos acabar com a estrutura. Vamos acabar com –
- Escreve-me uma peça.
- Eu quero fazer de mim própria. Quero fazer de princesa.
(Escritor tenta suicidar-se com uma almofada.)
- para o escritor: Não me arranja umas notas? Estou a precisar de dinheiro. Não tem dinheiro para me dar? Se eu me casar consigo. Escreve-me uma peça, vamos ficar ricos. Os dois. Vamos viajar. Vamos conhecer outros mundos. Não quer conhecer outros continentes? Outras culturas? É tão bom conhecer outras culturas. Vamos fazer uma viagem à volta do mundo. Eu e tu. Uma aventura. Vamos casar e fazer... Vamos à praia apanhar sol. Não queres ir à praia comigo?
Escritor Não gosto de praia.
- Não gostas? Estás deprimido. Estás revoltado? Estás revoltado?
Escritor Não. Não. Não. Não. Não.
- Então vamos para o México. Não queres ir comigo para o México? Vamos os dois. Escreves-me uma peça.
Escritor Eu não quero escrever uma peça.