sexta-feira, 4 de julho de 2008

Livre/o

Apesar de ter nascido dentro do que se pode considerar alta cultura (por exemplo enquanto o meu avô resolvia problemas quotidianos provocados pelo seu metro e noventa, o tio um pouco mais baixo ia escrevendo a letra do hino nacional, o primo ia compondo músicas para a televisão, a irmã ia cantando e escrevendo cartas à prima afastada Elizabete 2ª, cartas que a sua filha beatlemaniaca fez questão de queimar honrando a liberation, uma prima Renata italiana ia dando concertos por todo o lado, uma outra prima mais tresloucada Namora com um escritor-médico mais que medíocre i.e. não há nada como a raça Hurtado de Mendóça Scot da Beira Baixa, Monsanto consort, ramificada em Aldeia do Bispo e circa mid-last-century na tão jocosa Penamacor) sempre fui um pouco mais para o lado do burro. Duvidava da espectacularidade da ópera (apesar de gostar dos dourados do camarote), duvidava da eloquência teatral, da abstracção pictórica e do encadeamento mozartiano (embora gostasse muito da pastelaria Versailles, auge dessa cultura, onde ainda fui recebido com salva de prata e muitos bolos). Apesar desta nostalgia lobo-antuniana me fornecer petites morts constantes, o que eu gostava era de televisão. Toda a discografia de música clássica da minha juventude foi posta em causa pela televisão via Technotronic (a minha primeira K7 pop). Technotronic destronou Bruckner.
E eis que surge o problema, se é que é um problema! Ainda hoje prefiro os conteúdos televisivos aos não-conteúdos artísticos (aos conteúdos artísticos não prefiro, claro está.): incluo nos não-conteúdos artísticos muitas das recentes estreias teatrais (festivais incluidos) e notícias de despedimento + concursos televisivos, e 'estudos' editados.
Com a televisão nunca há garantias porque nunca há promessas, e isto para mim está já na ordem da conceptualidade (sim, a agenda capital faz parte do conceito).
Sejamos realistas e analisemos os 'realizadores'.

Politicotainment: television's take on the Real
Editado por Kristina Riegert (escrito por outros autores)
Ed.Peter Lang
"We do not intend to recount the scholarly and popular debates on the implications of the blurring of the boundaries between the public and private sphere or the effects of media commercialization on the public sphere. Suffice it to point out that despite the deep-seated anxieties about politics as spectacle and about the ways the media stereotypes, simplifies, and dramatizes political life, our starting point is that popular culture can be a forum for political activity, just as politics often borrows the language and formats of popular culture. This is because the latter, and in this case specifically entertainment television, articulates and directs emotions. Its use of images and symbols focuses experience and expresses ideas, and in this way, entertainment television can become a source of political thought and action."