- Não há muita coisa para amolar nesta região?
Amolador Não muita coisa digna, não muita que valha a pena, não muita coisa que dê prazer
- Mas há-de amolar facas, há-de amolar tesouras.
Amolador Facas? Tesouras? Acha que ainda existem facas e tesouras neste mundo?
- Achava que sim. Não existem facas nem tesouras nesta região?
Amolador Nem nesta região nem noutras. Passo por muitos sítios, há quinze a vinte mil almas para quem amolo, mas nunca vejo facas nem tesouras.
- Mas o que é que lhe dão a amolar, se nunca lhe dão facas nem tesouras?
Amolador Isso é o que eu lhes pergunto sempre. Que me dá a amolar? Não me dá uma espada? Não me dá um canhão? E olho-os nos olhos, de frente, e vejo que aquilo que me dão nem merece o nome de prego. Dá prazer amolar uma lâmina de verdade. Se a lançamos, é um dardo, se a empunhamos, é um punhal. Ah, se todos tivessem sempre uma lâmina de verdade!
- Porquê? Acha que acontecia alguma coisa?
Amolador Oh! Eu teria prazer em amolar uma lâmina de verdade. (...) E amolava-as como dentes de víbora, unhas de leopardo! (...) Quem dera houvesse facas e tesouras, buris, chuços e arcabuzes, morteiros, foices e martelos, canhões, canhões, dinamite!... [Ah se os houvesse…]