domingo, 23 de novembro de 2008

Eu não manifesto. Eu faço.

texto I can do that! ao jeito de Tim Etchells meets Helsinki Complaints Choir

(actores separados em vários pontos do espaço)
No princípio dizias que gostavas do que eu fazia.
Depois passei a ser velho.
Depois roubavas-me pelas costas (não há problema, eu também roubei. Mas assumo).
Continuei a ser velho.
Cada vez mais velho.
Depois voltei a ser teu amigo.
Que afinal mudei-te a vida.
E quem disse que um espectáculo deve mudar a vida?
E quem disse que um espectáculo quando muda a vida, deve mudar para melhor?
E quem disse que o espectáculo era para ti?
Que afinal mudei-te a vida.
Que estás diferente.
Que eu também estou diferente.
Quem disse que cada novo espectáculo tem de ser diferente do anterior?
Quem disse que cada novo espectáculo não é o velho espectáculo?
(em jeito manif) VE-LHO VE-LHO VE-LHO.
Porque tu também estás diferente.
Estás morto.
Vestes American Apparel
Mas a América tb aparou
As tuas ideias.
(os actores deslocam-se para o bar e bebem água e engasgam-se)
E quem disse que um espectáculo não podia ser catastrófico (portanto, que tinha de ser eficaz)?
Quem disse que cada espectáculo tem de veicular uma Id(eia)?
Quem disse que um espectáculo não se pode concentrar num só pormenor?
Quem disse que o avanço num espectáculo tem de ser grande?
Quem disse que tem de ser para a frente?
Porque não sou:
Uma escola.
Um centro social.
Um museu etnológico.
Um centro de animação de biblioteca.
Um centro comercial no Natal.
Um produtor cultural de chapéu de côco.
- Pois não! respondes tu.
(aponta para o público)
E olhas para os meus leggings
observando os padrões.
Analisas circunspecto.
E estás sempre atrás.
Vais ficando para trás.
Porque para mim, não há respostas.
Não há nada a fixar-me.
Estou sempre a mudar.
E eu não sou/quero ser aquilo que tu queres/achas que eu seja/sou.
Recuso-me.
Ou melhor.
Nem penso nisso.
Estou LÁ
(portanto isto não é um lamento de Ardi/anos.)
Cada vez mais LÁ.
Profundamente no LÁ.
- E como é que podemos chegar a esse LÁ? perguntas tu.
(as luzes sobem e iluminam um espaço vazio).