sexta-feira, 16 de janeiro de 2009
Badiou (cont) ou A Novela da Jardim
"7. A crítica está encarregue de zelar pelo carácter de risco do público. A sua função é conduzir a ideia-teatro, tal como recebe, bem ou mal, no sentido do ausente e do anónimo. Ela convida as pessoas a rirem, por sua vez, completar a ideia. Ou ela pensa que essa ideia, surgida em tal dia na experiência arriscada que a completa, não merece ser honrada pelo risco alargado dum público. A crítica trabalha, assim, também ela, no surgimento multiforme das ideias-teatro. Ela faz passar (ou não passar) da "primeira", a essas outras primeiras que são as seguintes. Evidentemente, se a sua destinação é demasiado restrita, demasiado comunitária, demasiado marcada socialmente (porque o jornal é de direita ou de esquerda ou apenas afecta um grupo "cultural", etc.), ela trabalha, por vezes, contra a generalidade do público. Assim, é de contar com a multiplicidade, ela própria arriscada, dos jornais e das críticas. O que a crítica deve vigiar, não é a sua parcialidade, que é necessária, é o seguimento dos modos, a cópia, a loquacidade serial, o espírito de "voar em socorro da vitória" ou o serviço duma audiência demasiado comunitária. É preciso reconhecer sob este aspecto, que um bom crítico - ao serviço do público como figura de risco - é um crítico caprichoso, imprevisível. Quaisquer que possam ser os vivos sofrimentos que ele inflija. Não se exigirá ao crítico que seja justo, exigir-se-lhe-á que seja um representante informado do risco público. Se, acima do mercado, ele não se enganar em nada sobre o surgimento das ideias-teatro, ele será um grande crítico. Mas de nada serve exigir a uma corporação, nem a esta nem a uma outra, que inscreva nos seus estatutos a obrigação de grandeza."