terça-feira, 13 de janeiro de 2009
Badiou (cont)
"4. A ideia-teatro está, no texto ou no poema, incompleta. Porque permanece aí retida numa espécie de eternidade. Só que, enquanto se limita à sua forma eterna, a ideia-teatro não é ainda ela própria. A ideia-teatro apenas surge no tempo (breve) da representação. A arte do teatro é sem dúvida a única que tem de completar uma eternidade pelo que lhe falta de instantâneo. O teatro vai da eternidade ao tempo e não o contrário. Importa, então, compreender que a encenação que governa - como pode, tão heterogéneas que são - as componentes do teatro não é uma interpretação, como se julga comummente. O acto teatral é uma complementação singular da ideia-teatro. Toda a representação é uma conclusão possível dessa ideia. Corpo, voz, luz, etc., vêm completar a ideia (ou, se o teatro se subtrai a si mesmo, torná-lo ainda mais incompleto do que o é no texto). O efémero do teatro não é o facto de uma representação começar, se concluir e deixar, no final, apenas traços obscuros. É, antes de tudo, uma ideia eterna incompleta na experiência instantânea da sua conclusão."