quinta-feira, 9 de abril de 2009

RTP (Resposta do Teatro Praga)

(respondi ao questionário da Dri Raposo Mattos que estuda na Royal Welsh College of Music & Drama e só conhece o nosso trabalho via internet, com perólas destas):

4 – Quais são as maiores vantagens (para vocês e para o público) de trabalharem sem encenadores?
R.T.P.: É uma questão conceptual. Mas nós temos um encenador, o Teatro Praga. O Teatro Praga é um deus ex-machina a quem confiamos as nossas questões, as nossas ideias e os nossos materiais. Em termos religiosos, o Teatro Praga é o nosso Deus. (...) Não queremos um ditador directo (até porque facilmente somos levados a matar), queremos uma figura que tutele a nossa realidade simbólica mas que nos permita pensar e agir conforme as nossas incapacidades.

5 – Qual foi o pior momento da vossa actividade, ou a pior reacção ao vosso trabalho e porquê?
R.T.P.: O momento actual. É o momento em que estruturas institucionais reconhecem a importância do nosso trabalho (embora cinicamente, porque se aperceberam que não nos podem calar, e portanto tentam-nos comprar), mas é também o momento em que os criadores de teatro assumidamente nos viram as costas. Os mais velhos não nos reconhecem qualquer tipo de qualidade (porque não fazemos textos clássicos) e os mais novos acusam-nos de velhos (porque na realidade acham que nós temos poder quando não temos poder algum). Isto tudo salvo raras excepções, obviamente. O que nos salva é que o nosso público nunca foram as pessoas de teatro (essas nunca nos reconheceram como sendo do teatro). O nosso público sempre foram artistas plásticos, teóricos, ou admiradores comuns da nossa loucura.

11 – Quais acha que são as perspectivas de futuro do teatro Português? Em que direcção se move? Existe (ou está em desenvolvimento) algum traço/característica que diferencie o teatro português de outras culturas, ou pensa que ainda não é visível?
R.T.P.: O teatro português vai continuar na mesma lenga lenga. Os criadores mais antigos já têm criadores e companhias que se inscrevem na sua tradição de ‘não-pensamento’. E os novos criadores são tendencialmente reaccionários, buscam ascenção rápida e não querem perder muito tempo a pensar. Isto aconteceu na nossa época (nós fomos das poucas companhias no nosso tempo a não receber dinheiro e a demorar muito até ser reconhecida) porque é que não se há-de repetir noutras?
Há sempre alguém com vontade de comer uma fatia de bolo custe o que custar.