A seguir ao filme da Angelina Jolie fomos ver outro filme. Eu e o meu amor. Não pagámos mais por isso porque ali no Corte Inglês (o Corte Inglês é ali), ali no Corte Inglês sais de uma sala e entras noutra e ninguém topa. É um segredo nosso. Era. Na outra sala estava a começar o filme do Sylvester Stallone. E o Stallone é um mercenário que se chama Barney Ross, e é amigo do Mickey Rourke que faz tatuagens e não sabe o nome das namoradas. E depois a certa altura há uma cena numa igreja: o Stallone a ser contratado pelo Bruce Willis para matar um general sul-americano. E o Bruce Willis diz que se chama Mr. Church e está vestido de padre. E de repente parecia que o Bruce Willis era o padre que ia casar o Stallone. O Stallone deixa de ser o Barney Ross e passa a ser um noivo. E só falta a noiva para o casamento se consumar. E não é que nisto entra o Schwarzenegger, o Arnold Schwarzenegger pela porta da igreja em conta-luz. E tu pensas: vão mesmo casar! O Arnold Shwarzenegger e o Sylvester Stallone! E o Bruce Willis é o padre!
Só que eles não vão casar. E não vão casar, primeiro porque estão a decidir quem é que vai à América do Sul matar um general mau. E segundo porque os casamentos entre pessoas do mesmo sexo não são permitidos em igrejas, e além disso Bruce Willis não é o Mr. Church, e porque apesar daquilo ser mesmo uma igreja, o Bruce Willis não é padre nem nunca pode ser porque o Bruce Willis é o Bruce Willis que não é o Bruce Willis, tal como o Stallone é o Barney Ross e não é uma noiva, mas também não é o Barney Ross, é o Stallone que não é o Stallone que é o Stallone que não é o Stallone e o Schwarzenegger chama-se Trench e não é o noivo e é o governador da California e é também o Schwarzenegger que não é o Schwarzenegger e de certeza absoluta que se o Bruce Willis perguntasse ao Schwarzenegger se ele aceitava o Stallone “to be your lawful wedded husband” ele dizia que não e tenho a certeza de que a Angelina Jolie respondia o mesmo até porque a Angelina Jolie não tem lugar neste filme porque esta não é a história da Angelina Jolie.
E é nisto que eu penso todos os dias quando acordo: “Porque é que andamos tão preocupados com a identidade do que quer que seja?”