B: A historinha da comédia é: eu encomendo uma comédia de guerra para o meu casamento. Só que o meu casamento não acontece e portanto a comédia não se faz. A comédia é escrita. Mas não é feita.
A: Não. O casamento acontece mas a sogra ou a mãe ou o pai não gostam de comédias de guerra e a comédia não se faz.
S: Mas escreve-se.
C: Não é nada disso. A comédia é um casamento. De guerra. E o casamento está escrito. Mas não é feito, porque a sogra ou a mãe ou o pai não gostam de casamentos.
S: Só gostam de funerais.
C: Exactamente.
B: Então eu não me vou casar?
S: Não. Vais morrer.
A: Não. A comédia é: isto não foi escrito e nós não estamos a fazer isto. Não estamos aqui agora. Tu não existes.
B: Eu não existo?
C: Não. Tu existes mas não és o que és porque nós não sabemos ler. Somos analfabetos.
A: Já sei: isto é uma comédia escrita por analfabetos que é um casamento onde vai ter lugar uma comédia de guerra feita por velhos.
S: Gosto.
C: Não, já sei. A história é: chegámos atrasados e o casamento já aconteceu e a comédia já acabou. E é por isso que ainda estamos aqui. Mas já não somos nós.
A: Porque já aconteceu.
C: E não estamos aqui.
B: Quer dizer que eu já casei.
S: Tu já morreste. E isto é um funeral.
A: Que é uma comédia.
C: De identidades. É uma comédia de identidades. Na guerra.
S: Num funeral.
C: E no papel.
A: Uma comédia que é feita mas não foi escrita.
B: E eu não me posso casar?
A: Tu podes tudo. Isto é uma comédia!
in Terceira Idade (1ª versão)
Hoje: Terceira Idade. J.M. Vieira Mendes
Amanhã: Mentecapto. André e. Teodósio
Depois de amanhã: Criar intervalos: políticas da obra de arte. Vanessa Brito.
Depois de depois de amanhã: Who needs realism when you can have fakism? Cláudia Jardim.
Depois de depois de depois de amanhã: Sabbath.