Como todas as boas histórias, esta é motivada por uma necessidade única e avassaladora: reaver o que se perdeu. É como a repetição de um assassinato. A repetição de um assassinato antigo. Os irmãos de uma tribo antiga, governada por um pai tirano, revoltam-se e matam o seu carrasco, e depois assam o comem o cadáver (é este o pecado original, o conhecimento secreto por detrás de cada fé). Eu sou um assassino. As minhas mãos estão cobertas de sangue.
O princípio da Lei é o fim do assassínio. A memória do primeiro assassinato foi sublimada, mas reemergiu, foi recuperada, com o passar do tempo, primeiro com os sacrifícios animais, em que o crime era reencenado, com o animal sacrificado a fazer o papel do pai, sendo depois cozinhado e comido; depois nos cultos pagãos em que os deuses são presentificados com uma cara humana; e depois no monoteísmo, em que o pai regressa, um homem com uma cara, o lider da tribo, vingativo e assassino. A história da espécie é a história da recordação amnésica desse crime.