BERLIM DIÁRIO (fechar fronteiras) 17
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Na despedida visitei um local de partida, o aeroporto abandonado. Chama-se Tempelhof, é a nova coqueluche de Berlim. Parece que alguém o abandonou e deixou a chave do lado de dentro. Correm pessoas nas pistas. Dois aviões ficaram esquecidos. Estão à espera que lhes tragam o motor. Entrei num deles. Sentei-me no lugar do piloto. No horizonte uma tempestade. Levantei voo sem qualquer receio. Vamos em frente, disse para os passageiros e tripulação. Agarrei-me ao leme e fiz aquilo que me ensinaram. Aterrámos em segurança. Falso final.
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Prometi a mim mesmo que não me ia embora sem chegar ao princípio. Estou a tratar do assunto. Rejuvenesci. Já oiço a música do genérico de abertura. A tensão instala-se. O entusiasmo em meu redor, a expectativa. Desde o epílogo que aguardávamos por este momento. Sinto-o a aproximar-se. Espero que não me fuja.
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Claro que, tendo em conta todo o discurso produzido à volta deste momento inicial, poucos são aqueles que acreditam que ele venha de facto a existir. Sabemos bem como tem sido nos últimos anos. Todas as histórias que se concentraram à volta de um momento, deixaram encoberto esse momento. Finais abertos... Já lá vai o tempo das conclusões. Até de “Rosebud” já lá vai o tempo. Se hoje se fizesse o filme, não haveria sequer objeto. Apenas uma palavra: Fim.
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Não acabou. Amanhã começamos.
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