Dia 14 – 23/02
Cada grupo trabalha comigo uma hora. O objectivo é perceber o que é cada uma das cenas e perceber as suas potencialidades.
Liliana + Zé – Continuamos a apostar na ideia de cenas que são filmadas enquanto o espectáculo decorre e depois mostradas ao público. Valério e Elisa são agora uma espécie de Bonnie & Clyde. Personagens (sim, personagens!) que jogam num registo alternativo ao resto do espectáculo e que eventualmente no fim se juntarão ao universo de Molière.
Escolhem-se possíveis cenários para os short-films da dupla.
Tessa + Dana + Maria Inês – A conversa vai no sentido do exagero total em relação ao registo desta cena. Falo no Teatro de Revista e não me parece minimamente despropositado. Talvez se torne a cena mais molieriana de todo o espectáculo: perucas, roupas anacrónicas, muita desgarrada.
Experimentamos fazer a cena com música aos berros e com as actrizes a explorarem um lado mais solto e anárquico. Parece sempre pouco. A “distanciação molieriana” (acabei de inventar) é aqui necessária como pão para a boca, porque senão vejo-as cair invariavelmente no registo dos bêbedos dos Malucos do Riso.
Margarida + Manel – Tentamos uma abordagem mais física a este jogo duplo. Os actores transformaram um diálogo entre Farpas e o seu patrão Harpagão em dois monólogos. Falamos da importância da direcção do texto, que aqui é dito para o público. Aumentamos ao texto alguns trechos que eu acho importantes e que tinham sido retirados. Parece que os actores concordam.
Nota: Ao contrário do que alguns dos alunos estarão neste momento (eventualmente) a pensar, estamos claramente, neste momento do workshop, num território muito teatral, no sentido mais óbvio do termo e não no sentido do Ortega y Gasset*. Pouco radical no que diz respeito à abordagem do objecto que estamos a criar. Falamos e tratamos essencialmente (pesando logicamente todas as conversas e referências das primeiras aulas) de questões do teatro, técnicas e dramatúrgicas. Estamos a trabalhar um clássico e isso nota-se. Tento imaginar onde estaríamos se não tivéssemos a referência do Avarento e acabo a pensar que essa é uma questão bizantina.
Estamos a fazer um espectáculo clássico de teatro, partindo de um texto teatral, colocando-lhe as questões dos (18, eu incluído) criadores.
Acho que nunca tive grandes dúvidas que assim seria. Nem fiz grandes esforços para contrariar isso.
“Isto é um canto e não um lamento. Já disse o que sinto, agora façamos o ponto…”
e continuemos…
Segunda-Feira há mais 4 grupos.
* “A coisa chamada teatro como a coisa chamada “homem” são muitas, inumeráveis coisas diferentes entre si que nascem e morrem, que variam, que se transformam a ponto de, à primeira vista, uma forma não se parecer em nada com a outra”