quinta-feira, 5 de junho de 2008

MARCUS STEINWEG - BEHAUPTUNGSPHILOSOPHIE

“Tanto na filosofia como na arte não se trata de demonstrar ou opinar. Trata-se de tomar uma posição, de afirmar. A afirmação é distinta da demonstração ou da opinião na medida em que não precisa de ser verificada. Ultrapassa as modalidades do pensamento tradicional como a reflexão, a justificação, a crítica, a argumentação. Trata-se, enquanto sujeito, de alcançar uma verdade na incerteza e de dar a este alcance uma forma, linguagem. (p.9)

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Quero aqui defender a relevância política da arte e da filosofia contra o sentido possível da arte política e da filosofia política. Quero mostrar que a arte política e a filosofia política, em lugar de serem políticas no sentido de uma política da liberdade, do impossível e do necessário, resultam antes na sua própria apolitização. A política não deve ser aquilo a que chamamos política. Não deve ser a afirmação de um interesse ou a defesa dele mas ser sim uma oposição contra a ordem da realidade sociopolítica e ideológico-cultural. Articula-se enquanto recusa absoluta do mundo dos factos e das opiniões que circulam em redor destes. É a política da verdade, de uma verdade que entra em conflito com as certezas estabelecidas, que faz gaguejar a voz das verdades oficiais e a silencia.

Quero mostrar que a arte e a filosofia só podem ter um significado político enquanto arte e filosofia. Não se trata nem de reduzir a arte e a filosofia ao campo sociopolítico em que se articulam, nem de determinar a tarefa da arte e da filosofia como sendo uma tarefa política. “Isso é a ilusão da esquerda das últimas décadas”, diz Heiner Müller, “dos intelectuais europeus ou dos literatos, a ilusão de que pode e deve existir uma comunidade de interesses na arte e na política. Não se pode controlar a arte. A arte consegue sempre fugir ao controlo. E por isso sempre foi […] quase automaticamente subversiva.” (pp.11-12)

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A verdade não é justificada pela filosofia e pela arte. A verdade só se deixa afirmar [behaupten]. A verdade não é justificável. A verdade acontece por si, quando o sujeito se distancia da ordem simbólica, da sua integridade sociocultural, bem como das fantasmagorias do imaginário. Há verdade no momento em que a filosofia e a arte se aproximam do impossível – a pura virtualidade, o real ou o caos – correndo o risco de ir para além do horizonte. A filosofia e a arte têm de afirmar esta aproximação, que é uma aproximação da verdade. Realizam este movimento e defendem-no. São formas de realização de verdades não pré-existentes. Não se pode tratar de encontrar verdades, de as descobrir, de as decifrar. Trata-se de as inventar: de produzir verdade! (p.15)