terça-feira, 20 de outubro de 2009

Chegada


Chegámos e já é noite. Motel One é a nossa casa. Quando ligamos a televisão conforta-nos, no Canal 0, uma lareira a crepitar. Uma imagem quente num quarto quente a contrastar com as temperaturas do exterior. É caso para dizer que se trata de uma casa "mais resistente que um país" (in Padam Padam).
Jantámos num restaurante persa na Oranienstraße. Eu tive a sorte de pedir um sortido de arroz que escolhi porque o nome em alemão se aproximava de Bach: Reisvariationen. O resultado foi um prato em tamanho grande com quatro tipos de arroz, um branco, outro vermelho, outro verde e outro pintalgado de uvas-passa. Arroz é arroz é arroz é arroz…
Saímos da Pérsia dirigidos pelas nossas cicerones berlinenses – Natalia (do Goethe Institut em Berlim) e Astrid (do Goethe Institut em Lisboa) – com o objectivo de um passeio, conhecer a rua, espreitar as montras, olhar para dentro dos bares, mas cem metros de caminhada e já estávamos dentro de um café a beber chá com brandy para aquecer os ossos. A Cláudia resolveu não calçar meias, a Patrícia tinha um casaco da grossura de um papel, o Pedro esqueceu-se da lã e eu não sentia as orelhas.
Apesar do clima adverso estou convencido de ter reencontrado qualquer coisa que anda perto de uma ideia de civilização e que ajuda a reacender o interesse pela humanidade e os seus conseguimentos. Confesso que Modena apenas me interessou pelas suas qualidades culinárias que rapidamente se esgotaram por não se acharem acompanhadas de outros perfumes. A barriga enfada-se, o cérebro estagna, o sangue deixa de correr. Quero mais. Preciso de mais. Amanhã há mais. E começa bem cedo.

(O Teatro Praga está em Berlim de 19 a 24 de Outubro a convite do Goethe Institut)