quarta-feira, 21 de outubro de 2009

Escalas. Segundo dia.

(Sala principal dos Berliner Festspiele. Na plateia, com uma lupa, dá para ver a Patrícia.)


Chegamos a casa, ao nosso Motel One, e ligamos a tv para aquecer as mãos e reflectir com a crepitação da madeira. Recordo o dia que, a estas horas, parece do tamanho de um mês. A escala é outra. Como bem notou a minha colega Jardim, tudo é espaçoso em Berlim. E como bem notou a minha colega Patrícia, tudo é alto em Berlim. E o meu colega Penim acrescentou que tudo é grande em Berlim. E todos regozijámos em harmonia com o facto de poderem entrar os cães com seus donos nos cafés, bares e restaurantes de Berlim. Há lugar para a especificidade. E sentimo-nos bem aqui. E a comida vietnamita é de alta qualidade. Calcorreamos as ruas com entusiasmo. Somos bem tratados. E há quem nos oiça. Ou finja, com simpatia, o que já é qualquer coisa.

Hoje vimos o nosso primeiro espectáculo da estadia, no sumptuoso e barroco Berliner Ensemble: uma longa e impressionante Ópera dos Três Vinténs com muitos euros bem aplicados por Bob Wilson. De uma perfeição que assusta e até faz medo. Controlo absoluto. Uma maldade artística de fazer inveja a qualquer pretensão e irritar qualquer inimigo de tanto estilo. Pareceu-nos ver lá no meio o Teodósio, cabelo ruivo, mais disciplinado do que o habitual, mas ainda assim acenando com o seu género. Lancei um beijo da plateia e no final queimámos as mãos com aplausos.

Já na ceia, sentindo-nos cada vez mais pequenos, ouvimos uma voz numa língua familiar. Apresentou-se. Era o Manel, amigo da Barrios, que perguntou o que andava a Praga a fazer em Berlim. Confuso. Estou baralhado.

E por isso para dormir vou ler uma entrevista do Lars von Trier no número de Outubro da Theater der Zeit, juntamente com um ensaio do Mårten Spångberg (“It’s only rock’n’roll (but I like it)”) de um livro chamado Uncalled – Dance and Performance of the Future que comprei na Dussmann para depois sonhar com o meu país.

Esperamos que esteja tudo bem por aí. Volta e meia dá-nos saudades.