A pretensão enorme de que pode existir uma visão do mundo. A
ideia iluminista de que a razão abarca o mundo. antes do conceito propriamente dito existir foi preciso, no renascimento, conceber-se a natureza como uma coisa legível, um livro, um texto. O mundo poder ser lido. Haver uma ordem, uma gramática, cujo código podemos aprender. Depois, para Kant, weltanschauung, aparece no sentido do mundo tal como aparece aos nossos olhos. No sentido
da percepção. Com o romantismo alemão, passa-se para uma ideia de concepção do mundo e não de percepção do mundo. Primeiro
temos a ideia, e depois é que sentimos de acordo com a ideia que temos. O confronto
com o mundo real nunca altera a ideia elaborada à partida. Foi talvez isto que
permitiu mais tarde os nazis apropriarem-se desta palavra e afirmarem que a visão
do mundo só pode haver a deles, e portanto se pode matar em nome de uma visão
do mundo. Chegaram a querer substituir filosofia por visão do mundo. Depois
do nazismo é preciso negar a pretensão da ideia da visão do mundo, não é? Ou já não?
Se calhar já se negou. Se calhar negar uma visão do mundo já é uma visão
do mundo outra vez . como é que chegamos a outra coisa, como é que atravessamos, como é
que traduzimos?