***
***
Estou a criar uma massa. Sem querer. Por acumulação. Porque não sou capaz de ficar calado. E a massa, ainda sem eu querer, toma uma forma. Ou várias. Por acumulação. (Redonda como esta biblioteca?) E aos poucos avista-se a palavra Finalidade. Que é Possibilidade. Está a aparecer desenhada, ainda baça, no horizonte.
(E estas coisas assustam-me. Este modo de falar. Parece que não sou já eu. É uma acumulação de livros. De metáforas de que não gosto. De palavras que rejeito. Rejeito “horizonte”, por exemplo. Não o quero dizer.)
Será que alguém vê a massa a aproximar-se. Esta coisa feita de palavras a pular, coisa em movimento. Será que todos pensam que sou eu? Ou será que já me esqueceram, que finalmente consegui que me esquecessem? Será que a ideia de sujeito se evaporou finalmente, que mesmo conjugando na primeira pessoa, esse lugar se vê desabitado, até que enfim?
Ontem, numa loja, vi um “boneco para solteiros”, coisa de plástico do tamanho de um mindinho que, segundo as instruções, “quando colocado dentro de um copo de água, incha, cresce”. A massa continua a inchar, a crescer. E está por isso mais próxima. A sua aproximação deve-se ao aumento do seu volume e não à velocidade de deslocação. Mergulhei as palavras na água: tempestade, texto, mentira, diálogo, casa, começo... “Tempestade” é maior do que ao início, no dia 1. “Metro” também. O “parque” igualmente. Todas as palavras crescem com os dias.
(Será que desta vez expus melhor? - cf. 2)
***