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Estou a parafrasear. O que me importa hoje na leitura é a observação de uma consistência. Vejo-me em movimento numa cidade. Insisto numa rotina disciplinada. Penso: Porque estou eu aqui? Oiço os diálogos que ficaram numa outra cidade. Neles maldissemos, entre outras coisas, a proliferação da expressão “ter ideias”. Por exemplo (e não receiem, as pontas vão acabar por se juntar), li um texto e a ideia que tive foi a de reproduzir esse texto. Em linguagem de teatro: Tive uma ideia. Vou fazer A Morte do Caixeiro Viajante. Isto não é uma ideia, maldissemos nós.
Voltemos atrás: Tive uma ideia. Vou reduzir o tamanho das minhas esculturas. Isto não é uma ideia.
Mas pode vir a ser. Tem de ir à procura da abstração. É isso a ideia. Como eu em movimento nesta cidade. Insisto numa rotina disciplinada. Não abandono o mesmo trajeto até o ter seguro na vista. Conheço cada uma das estações. Sei quando me aproximar da porta da carruagem. Não olho para os mapas. Dirijo-me sem hesitar à saída para a superfície. Acelero o passo. Gasto o passeio como um trilho a atravessar um relvado no parque. Isto é meu. Não é tudo, mas é meu. E estou cada vez mais próximo. Não da ideia. As ideias não me interessam. Não da abstração, apesar do meu interesse (ainda assim, não sou Caro). Estou cada vez mais próximo do quotidiano. É esse o meu dia. O reconhecimento de uma existência que me inscreva.
Ser palavras. Este diário é isto.
(Espero ser capaz de num outro dia o expor melhor.)
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