quinta-feira, 31 de agosto de 2006

Imprensa I

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Shall we dance shall we dance o convite do teatro praga

Dois convites. É assim que tudo começa. Um convite feito a um criador que não pertence à companhia e outro feito ao público. Foi deste modo que surgiu a ideia para o ciclo "Shall We Dance Shall We Dance", que o Teatro Praga apresenta em co-produção com O Espaço do Tempo até 9 de Setembro no Hospital Miguel Bombarda, em Lisboa. O espectáculo, o segundo do ciclo (o primeiro foi apresentado em 2003), é composto por três pequenas criações: "Shall We Project", de Patrícia da Silva e o seu convidado Nelson Guerreiro, "Super-Gorila" de André e. Teodósio e José Maria Vieira Mendes, dos Artistas Unidos; e "Hidden Track", de Carlos Alves e de qualquer pessoa que o actor encontre durante os 80 minutos de espectáculo para dançar com ele. Os autores são também actores nas peças, à excepção de José Maria Vieira Mendes, que se assume apenas enquanto dramaturgo. "Em princípio escolhemos alguém com quem nunca trabalhamos", diz Carlos Alves. "Ajuda a promover uma relação de trabalho, a reciclagem de ideias, é algo positivo para conseguirmos estar atentos." O objectivo dos duetos "não é o espectáculo mas o produto da colaboração", acrescenta André e. Teodósio. "É por este motivo que pretendemos fazer um todos os anos", diz Patrícia da Silva. "Ainda este ano, em Outubro, haverá um terceiro "Shall We Dance" e para o ano um quarto, na Culturgest." A companhia propõe "Shall We Dance Shall We Dance" como um espectáculo repartido em pequenos momentos. "Dizemos que é um ciclo servido em pequenas doses porque apresentamos sempre duas ou três pequenas criações acopladas", explica Patrícia da Silva. As peças não têm intenção de fazer sentido no seu conjunto, não há intencionalidade na sequência. "Produzem um código juntas mas que para nós é abstracto, não sabemos explicar o que são juntas mas tinha de haver uma sequência para o espectador", diz André e. Teodósio. O espectáculo já foi apresentado no ano passado em residência artística, em Montemor-o-Novo. Mas este "Shall We Dance Shall We Dance" é diferente. Os textos foram alterados e desenvolvidos. "Foi a vivência em conjunto na residência que ajudou a criar o espectáculo", diz José Maria Vieira Mendes. A criação começa com "Hidden Track". Carlos Alves explica, sozinho em palco, que vai procurar nas ruas alguém para dançar com ele no fecho da peça e sai. E se não encontrar ninguém para dançar? "Bem, tenho um plano C que espero nunca ter de colocar em prática: peço a alguém do público que dance comigo, mas a intenção é mesmo contar a minha experiência nas ruas", diz. Segue-se "Shall We Project", a peça que mais interpela o público e se apresenta quase como uma aula expositiva sobre vários projectos, e depois "Super-Gorila", a história de um jovem crítico que quer simplesmente destruir a sala. Não há, porém, um princípio, um meio e um fim, como insistem os actores ao longo do espectáculo. O público é interpelado ao longo de todas as peças de diversas formas - é convidado a ler, a responder, a participar. "A interpelação que fazemos não passa do reconhecimento da situação, não pretendemos quebrar a convenção do teatro mas apenas reconhecê-la", diz Patrícia da Silva. "O ambiente é individualizado, precisamos muito do público", reconhece Nelson Guerreiro. E é durante a própria peça que descrevem o tipo de espectador que procuram: "É aquele que não vai à espera de confirmar as intuições que um texto de apresentação ou uma sinopse no programa, um artigo de jornal ou uma crítica ou um simples comentário de alguém lhes suscita", pode ler-se num dos textos que distribuem individualmente a cada espectador no decorrer do espectáculo. O Teatro Praga, criado em 1995, trabalha sem encenador. Cada um dos actores é um encenador por si. Admitem que é mais difícil trabalhar deste modo mas "o gozo é maior", diz Carlos Alves. "Quando se trabalha sem encenador há maior implicação do actor como criador e não apenas como executante. Repartimos a responsabilidade por todos." Trabalhar sem encenador é apenas uma das convenções que o Teatro Praga quer quebrar. A companhia não se integra em nenhum estilo teatral e não tem um manifesto estético. "As regras estão rotas, as pessoas é que tentam tapar os buracos. Não fazemos nada de novo, nem de experimental. Não fazemos de propósito para ser "outsiders"", diz André e. Teodósio.
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Ana Tavares in Público /Y - Sexta, 25 de Agosto de 2006