sábado, 30 de junho de 2007

HOJE NO TEATRO NACIONAL S. JOÃO

OFFSIDE #1
Teatro Praga – 12 anos

30 Junho 2007, sáb 16:00
um documentário-conferência de Sofia Ferrão e Tiago Bartolomeu Costa
produção: Teatro Praga

Teatro (de) Praga. 12 anos. Os nomes, os espectáculos, as referências, as músicas, os textos, os colabo­radores, os autores, os espaços, os cruzamentos e as recusas, os vários quilómetros nas estradas, as resi­dências, as co-produções, os títulos e as facas, as vidas privadas e as virtudes públicas, os papéis nas pare­des, os confetis no final, o rizoma e o que fica fora, o texto, o reverso do texto, a morte do texto e a missa de sétimo dia ao autor, o fantasma do autor, os outros fantasmas todos, os que saem e os que ficam, os que nunca entraram e os outros que não sabem onde estão. 12 anos, para baralhar e voltar a dar. Do fim para o início. Replay.
© João Tuna / TNSJ / Teatro Praga (Clicar na imagem para aumentar)

Vou fazer-te gostar de uma bela companhia
uma conferência-provocação de Tiago Bartolomeu Costa

Primeiro pressuposto Ninguém deve falar por muito tempo da mesma coisa, pois corre o risco de cansar e deixar de ser credível. Logo, se um crítico conhecer bem o trabalho de uma companhia deve saber também que a dada altura chegou o momento de parar, colocar-se em causa e começar de novo.
Segundo pressuposto Uma crítica não se substitui ao espectáculo, não é o espectáculo, não explica o espectáculo. Quanto muito, o papel de jornal (onde foi publicada) pode substituir o saco de plástico (que é uma peça onde cabe tudo). E é só.
Terceiro pressuposto Num país de 92,391 km² não se compreende porque é que uma companhia deva ter que ser apresentada a uma cidade que fica a duas horas e meia de comboio da capital.
Quarto pressuposto Ninguém está aqui para facilitar a vida a ninguém. Isto sempre foi cada um por si, eu aqui, tu aí, ele onde calhar. No final celebra-se, pois.
Quinto pressuposto (e último) Diz o Stanisław Ignacy Witkiewicz que “o teatro é um lugar onde as coisas mais loucas devem parecer normais”. Diz.

agradecimentos: Embaixada da República Checa em Portugal/Anne Almeida, Ângelo Fernandes (fotografias), Mariana Sá Nogueira (figurino), Pedro Rocha (selecção musical), Centro de Edições e Equipa Técnica do Teatro Nacional São João

OFFPRAGA
um video-documentário de Sofia Ferrão

edição vídeo: Francisco Ferrão
duração: 1:05
agradecimentos: Francisco Ferrão e Nuno Carinhas

sexta-feira, 29 de junho de 2007

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Estreia Hoje:

Ópera
Metanoite
29 e 30 de Junho. 21h30.
Grande Auditório da Fundação Calouste Gulbenkian

(foto: Henrique Figueiredo)

Entre as várias encomendas e produções novas feitas expressamente para o Fórum Cultural “O Estado do Mundo”, contam-se duas óperas encomendadas a dois compositores portugueses, aos quais, em total liberdade de criação, se propôs que respondessem subjectiva, musical e dramaturgicamente ao estado do mundo. Convidaram-se igualmente dois encenadores que, com as equipas de criadores por eles constituídas, apresentaram as suas “respostas”. Espectáculo para maiores de 12 anos

Sobre esta ópera escreveu, o compositor João Madureira:
”Metanoite é uma ópera que reflecte sobre o estado do mundo neste microclima que é o meio artístico erudito nos nossos dias – as suas contradições, surpresas e perplexidades. E é também uma reflexão sobre o modo como pensamos e sobre a própria linguagem que usamos e que a nós nos usa.”

E o encenador André e. Teodósio comentou:
”Um espectáculo poço. Conjuga-se assim: Eu poço, tu poço, nós podemos. Como o poço da Torre dos Namorados. Os avós ao longe, o abismo aos pés e, entre nós, a imensidão da Beira Baixa que se estende. (…) Ainda não sei o que farei, mas sei o que não farei. Não farei nada sem fulgor (cheio para quem gosta, vazio para quem não gosta). (…) Promessa Llansoliana: Deixar de ser o rebelde (duplo do eremita), mas não desistir de tentar quebrar a impostura da língua do Príncipe.”

Compositor: João Madureira
Libreto: a partir de “O Senhor dos Herbais” e outros livros de Maria Gabriela Llansol
Adaptação: João Barrento
Maestro e Director Musical: Cesário Costa
Encenação: André e. Teodósio
Cenografia e Figurinos: Catarina Campino e Javier Núñez Gasco
Desenho de Luz: Cristina Piedade
Pianista correpetidor: Pedro Vieira de Almeida OrchestrUtopica
Mezzo Soprano: Sílvia Filipe
Soprano: Sónia Alcobaça
Barítono: Mário Redondo
Actrizes: Maria João Machado, Mónica Garnel, Paula Sá Nogueira

Co-Produção: Fundação Calouste Gulbenkian - O Estado do Mundo/OrchestrUtopica

quarta-feira, 27 de junho de 2007

ESTREIA HOJE NO TEATRO NACIONAL S. JOÃO - PORTO -

O AVARENTO
OU A ÚLTIMA FESTA

Comédia em cinco actos
De José Maria Vieira Mendes
A partir de O Avarento de Molière

© João Tuna / TNSJ / Teatro Praga (Clicar na imagem para aumentar)

De 27 de Junho a 8 de Julho
Terça a Sábado às 21:30 Domingos às 16:00
Info: 800-10-8675 / http://www.tnsj.pt/
Bilhetes: TNSJ, TeCA, http://www.ticketline.pt/, http://www.plateia.iol.pt/

Co-produção: Teatro Nacional São João / Teatro Praga
Colaboração: O Espaço do Tempo
Temporada em Montemor-o-Novo: 4 e 5 de Janeiro de 2008, Espaço do Tempo
Temporada em Lisboa: 11 a 19 de Janeiro de 2008, Centro Cultural de Belém

Uma co-criação de: André e. Teodósio, Cláudia Jardim, José Maria Vieira Mendes, Marcello Urgeghe, Martim Pedroso, Paula Diogo, Patrícia da Silva, Pedro Penim, Rogério Nuno Costa, Romeu Runa e Sofia Ferrão.
Iluminação: Daniel Worm d’Assumpção
Direcção de produção: Pedro Pires

Personagens e Intérpretes:
Arpagão o Forreta - Pedro Penim
Elisa filha de Arpagão - Cláudia Jardim
Cleanto filho de Arpagão - Romeu Runa
Varela preceptor de Elisa - Martim Pedroso
Marina amor de Cleanto - Patrícia da Silva
Dona Alzira mãe de Marina - Paula Diogo / Sofia Ferrão
Engenheiro Maleiro pretendente de Elisa - Marcello Urgeghe
Anselmo criado de sete ofícios - Rogério Nuno Costa
Larcão jogador, amigo de Cleanto - Martim Pedroso
Valter jogador, amigo de Cleanto - Patrícia da Silva
Pineta jogador, amigo de Cleanto - Rogério Nuno Costa
Vidente - Paula Diogo / Sofia Ferrão


© João Tuna / TNSJ / Teatro Praga (Clicar na imagem para aumentar)

“É longo o caminho que vai do projecto à coisa.”
Jean-Baptiste Poquelin dito Molière

A concretização deste espectáculo deve-se a uma dupla combinação: a proposta de Ricardo Pais, que arrisca convidar-nos para uma co-produção com o Teatro Nacional S. João; e a proposta do José Maria Vieira Mendes de reescrita de um daqueles textos teatrais considerados canónicos (mecanismo pertinente em relação ao Avarento, pois Molière também fizera o mesmo a uma peça de Plauto). A experiência de trabalhar com o José Maria Vieira Mendes, dramaturgo vivo e português, começou com o espectáculo Super Gorila (uma co-criação com André e. Teodósio, estreada em 2005 em Montemor-o-Novo). Se nesse espectáculo havia um bombista que tentava repetidamente rebentar o teatro, na tragicomédia Avarento surgem várias figuras na iminência de implodir com tanta raiva acumulada entredentes, pois “a maior parte das doenças começa na boca”[1].

Ver este espectáculo implica “voyeurizar” um conflito agonístico com total incapacidade de intervenção; são essas irascíveis teimosias entre familiares, amigos, interesseiros e montanheiros (para além de eventuais pára-quedistas) que podem provocar no espectador o esboçar de um riso. Nem uma festa, corolário da paz, salvará a animosidade. Aliás, vampirizemos um pouco os géneros cinematográficos e digamos que este Avarento inaugura um novo género teatral: o Teatro-Catástrofe[2] (mas sem espectacularidade, o que em si pode parecer um paradoxo). Explicamos: às tantas o autor, este que ainda está vivo, resolveu anunciar, gaguejando, que um dos seus propósitos na escrita do texto era matar as nossas festas, Fazer a Última Festa dos Praga (reduzindo os nossos acessos dionisíacos/demoníacos a meras insignificâncias estéticas, como se já não fizessem sentido no poderoso mundo apolíneo do mito). Tinha construído assim a primeira de inúmeras punchlines por vir.
– Bárbaro.

A gaguez, para além de caracterizar o fluir do bárbaro, é também o mecanismo do humor. O humor é o que faz gaguejar uma língua, tropeçar no nosso próprio território. Humor é atonal, é traidor, é traição, é linha de fuga, é roubo, é absolutamente imperceptível (não reside necessariamente em trocadilhos e em desconstrução física que são significantes, que são como um princípio no princípio)[3]. Humor é trairmo-nos por atravessarmos um perigo = experer (experimentar). É nesta traição que humor e tragédia se tornam inseparáveis: terrível atropelamento por um Hummer™. Explicamos:

Rir para Molière era um meio e não um fim. O humor (ao contrário da ironia) é um devir que nos desloca do espaço onde nos querem colocar, infelizes, incapazes, disponíveis para a impostura. Humor é um jipe no devir-deserto[4]: Um Hummer™. E se, como diz a citação inicial, longo é o caminho, o meio só poderá ser um Hummer™; e o objectivo, mesmo que involuntário, um atropelamento.

Este texto faz parte de uma trilogia do autor sobre as relações entre Pais & Filhos (que vai para além do seu significado primordial e familiar). Não há palavras exactas suficientes para as sintetizar e também não há metáforas (as metáforas sujam e embaciam). Só há palavras inexactas para designar coisas exactas, e tudo isto em constante mutação. É nesse humor, e sobre a imperceptibilidade de alguns “temas-chavão”, que o Avarento opera. Usando a liberdade de comparação, diríamos que o texto do Vieira Mendes partilha alguma da riqueza na manipulação linguística de Nuno Bragança (autor injustamente esquecido) ou César Monteiro e algumas das (des)ilusões da escrita teatral presentes na dramaturgia de Thomas Bernhard, isto é: Textos-que-ocupam-territórios-opticamente-correctos-mas-de-difícil-apreensão. Jogos sobre as ditaduras invisíveis da prática e da escrita teatral, reconhecendo-as e tornando-as ainda mais tirânicas. Exemplos: como fazer cair a noite, como fazer passar os dias, como complexificar e desmultiplicar personagens lineares, como pôr novos a fazer de velhos, como morrer em cena, como fazer um espectáculo com um elenco numeroso, como fazer nascer o sol, como propor um realismo cenográfico exageradamente impossível, ou então coisas tão simples como: fazer um prólogo, um intervalo, um acto que não existe, um epílogo.

Neste Avarento - possível palco para infinitas e histéricas afirmações políticas e estéticas como: a distribuição do poder dentro de uma mesma geração (a do “Jonas” que fez 25 anos no ano 2000[5]), a vigilância panóptica das cidades contemporâneas (disciplina e mutilação), velhos vs. novos, a ausência de mãe, os perigos de um mundo calculista, o poder transcendental vs. normas cartesianas sociais, a redução do humano a um valor monetário + quantificação como conhecimento, a casa como representação da economia moderna, divórcio entre economia e ética e entre verdade e valor, paranóia compulsiva como resultante de uma forma de conhecimento objectivamente perfeita, simplismo como certeza fascizante e blá blá blá - renegámos qualquer possível leitura linear, e tentámos desconstruir e “meter-a-pata” no texto o menos possível.

Tudo isto pode ser visto (pelos que nos conhecem ou pelos que têm algumas expectativas) como uma espertalhona/pouco inovadora manoeuvre classicista (representação vs. apresentação).

O que podemos dizer neste caso, e seguindo a senda Viriliana, é que é tudo uma questão de perspectiva.

Teatro Praga

[1] Mendes, José Maria Vieira (2003). T1. Livrinhos de Teatro/Artistas Unidos.
A cura será então esta: “De forma a curar os efeitos secundários do pharmakon e desembaraçarmo-nos do parasita, será então necessário meter o exterior de volta no seu lugar. No exterior. Escrever deve voltar a ser o que nunca deveria ter deixado de ser: um acessório, um acidente, um excesso.” Derrida, Jacques (1981). Dissemination. University of Chicago Press.
[2] “Os cientistas ocupam-se cada vez mais de acontecimentos singulares, de natureza incorporal, e que se efectuam em corpos, estados de corpos, agenciamentos inteiramente heterogéneos entre si (daí o apelo à interdisciplinaridade). (..) é um acontecimento que atravessa domínios irredutíveis. Por exemplo, o acontecimento «catástrofe» tal como o estuda o matemático René Thom. (..) Acontecimento significa terror, mas também muita alegria”.
Deleuze, Gilles e Parnet, Claire (1996). Diálogos. Relógio d’Água.
[3] Muitas passagens deste texto foram roubadas da obra citada anteriormente.
[4] a) Deserto: espaço sem referências, que permite povoamento múltiplo de tribos, faunas e flora. O deserto, a experimentação sobre si próprio, é a nossa única identidade, a nossa única oportunidade para todas as combinações que nos habitam. Não querer ser uma coisa, aspirar a ser tanta outra coisa.
b) E se Felicity Lunn & Heike Munder exclamam When humour becomes painfull (2005. JRPRingier Zürich.), nós avisamos: When Hummer™ becomes painfull.
[5] Jonas qui aura 25 ans en l’an 2000, “filme geracional” de Alain Tanner de 1976, que retrata a vida de vários homens e mulheres, na casa dos trinta anos de idade, que depositam em Jonas, uma criança de seis anos, as suas esperanças para o futuro.

terça-feira, 26 de junho de 2007

Ensaios O Avarento - Porto

Não me sinto seguro. Parece que o chão treme. Temo pelo statu quo, não se pode permitir mais saídas e viagens e vou ali apanhar ar e coisas do género.

© João Tuna / TNSJ / Teatro Praga
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segunda-feira, 25 de junho de 2007

Ensaios O Avarento - Porto

Já sinto o cheiro das pipocas e do algodão doce. Nada como uma festa para alegrar a população. Estou cá com uma falta de fogo de artifício.

© João Tuna / TNSJ / Teatro Praga
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domingo, 24 de junho de 2007

Ensaios O Avarento - Porto

“Considera sem cessar como todos os acontecimentos que se produzem neste momento se reproduziram identicamente no passado, e considera que se reproduzirão no futuro. Coloca diante dos teus olhos os dramas inteiros e... (...) Por exemplo: toda a corte de Cré… de Crê… de Cresus. (…) Todos esses espectáculos se assemelhavam; somente eram outros os autores.”
© João Tuna / TNSJ / Teatro Praga
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sábado, 23 de junho de 2007

Ensaios O Avarento - Porto

Sempre me dei bem com a solidão, mas à medida que se aproxima o fim da vida assalta-me o receio da dor da doença terminal, uma dor que não quero suportar sozinho. Por isso preciso de uma jovem ao meu lado que me anestesie com o perfume da juventude e me empurre quando as pernas começarem a falhar.


© João Tuna / TNSJ / Teatro Praga - clicar na imagem para aumentar

quinta-feira, 21 de junho de 2007

quarta-feira, 20 de junho de 2007

Ensaios O Avarento - Porto

Thème de Camille de Georges Delerue do filme Le Mépris de Jean-LucGodard

© João Tuna / TNSJ / Teatro Praga

segunda-feira, 18 de junho de 2007

Ensaios O Avarento - Porto

Só pensam em conas. Já vos estou a ver a bater punhetas logo pela manhã em filinha pirilau em frente ao calendário, a esfregarem-se e a lamberem-se uns aos outros, as mãos mergulhadas em óleo agarradas a essas pilas tesas e gordurosas, todas grossas e duras, a esporrarem-me a oficina toda, seus depravados.

© João Tuna / TNSJ / Teatro Praga

domingo, 17 de junho de 2007

Ensaios O Avarento - Porto

- Está-te a saber bem a cenoura?
- Como qualquer cenoura.
- Também temos nabos.

© João Tuna / TNSJ / Teatro Praga