quinta-feira, 15 de novembro de 2012

BERLIM DIÁRIO (fechar fronteiras) 14


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Talvez devesse parar aqui. Talvez devesse sair daqui. Acordei assim. Olhei para o teto e saí. Preciso de um movimento. Foram três dias parado em casa. Criei um mito. Sentei-me na cadeira, li, olhei as paredes. Três dias. Escrevi linhas. Dormi pouco. Estava frio lá fora. Recusei-me a sair. Chegam-me trinta metros quadrados de mundo. Não olhei sequer pela janela. Nem internet. Quero que se fodam todos. Estou a criar um mito. Mas hoje, quando acordei, deu-me umas ganas de sair que não me contive. Enfiei-me no metro para passear nas ruas. Dei encontrões. Conquistei o meu espaço. Despedi-me da cidade. Entendi que, para bem da humanidade (e continuo com estas manias universalistas), me devia começar a despedir. E entendi que, os próximos dias serão dias de diletantismo de despedida. Vou privilegiar o tom nostálgico. Vou acentuar o sentimento de partida, ou seja, de quem parte, ou seja, de quem se parte, ou seja, de uma parte para um lado e outra para o outro. “Minhas senhoras e meu senhores” (e estou a citar o Sloterdijk, imagine-se - fim de citação), a partir de agora este será um diário feito de noites. O sol já se pôs e não irá voltar a nascer. Berlim fecha as suas portas. O avião espera por mim. O herói despede-se. Aproxima-se o tão aguardado final. Será que teremos desenlace? Será que o protagonista encontra aquilo que sempre procurou?

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