segunda-feira, 5 de novembro de 2012

BERLIM DIÁRIO (fechar fronteiras) 4


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Continuar a fazer. Insistir e insistir para provar a inutilidade. Mais: para defender a incompreensão. Mais: para defender que aquilo que percebemos é aquilo que nunca vamos perceber. Insistir e insistir e insistir.

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Às vezes (talvez seja do tempo e de escurecer tão cedo, não sei), sinto-me o escritor mais aborrecido a juntar frases. Sem um sorriso na página. Parece que me estou a afundar nas sombras de uma floresta. A encostar-me aos clássicos românticos. Será que acabarei por perder esta consciência e enfiar-me de vez na prosa soturna e intragável?
Se soubesse contar anedotas, não hesitava. Era agora.

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Hoje falei com a distância. A comunicação emigrante, por um ecrã de computador. E do outro lado ouvi um tom nostálgico a relatar uma vida. E se na altura ouvi apenas a nostalgia, mais tarde, muito mais tarde, horas depois, veio a conversa de novo. Estava eu à espera, encostado a um balcão e as palavras que ouvira de manhã no ecrã de computador passaram a fazer sentido. O outro lado tinha razão. A sua nostalgia é verdadeira. É minha também. É uma tempestade, pensei eu. Era uma nostalgia de um espetáculo e o reconhecimento da impossibilidade de o repetir. A nostalgia de um modo de fazer que deixou de existir. Uma nostalgia ainda para mais consciente de que o objeto passado provavelmente não foi o que a memória sobre ele construiu. E ainda assim sobrevive a nostalgia. Gostava de voltar atrás, penso eu com o outro lado. Gostávamos de voltar atrás. Ou talvez não. Gostamos apenas de criar o que ficou para trás.

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