sábado, 9 de julho de 2011
Shoah
"The first is from Time Magazine, November 17, 1947. It tells of a fire in Bar Harbor, Maine, that killed thousands of lab mice - brown mice, white mice, black mice:
After the blackened buildings cooled, Director Clarence Cook Little walked sadly among the cages of roasted or suffocated mice. A few "little fellows" looked up with frightened eyes, among them two elederly fat yellow mice. But survivors were few. Out of the 90.000, only 55 were alive. The mouse holocaust was a major disaster to researchers in medicine and biology..."
Israel is Real, Rich Cohen
sexta-feira, 8 de julho de 2011
Catequese - Dia Oito
Donna Haraway
A nossa alma está lá fora. Vamos expulsar esta mistela de dentro de nós! Que achamos que é nós próprios. Aquela mistela russa encostada a um samovar que só aquece por dentro… não é nada. O interior não é nada. Nós somos uma relação externa do nosso corpo consigo próprio. É isso que somos quando nos arranhamos, mordemos, gememos, amassamos, escovamos, masturbamos, masturbamos, masturbamos, mas não uns ao lado dos outros, e não sentados uns ao lado dos outros. E a pele solta-se e não há nenhum plano para fazer a pele voltar, e o que se segue é a pele 2 e depois vem a pele 3. Não nos regeneramos: ficamos. Não fica novo nem fica velho, fica, só isso. Quando morremos também não perdemos nada. Significa apenas que não fica mais nada. E também não significa que o nada não se regenera. Também só fica. Fica uma coisa a que chamamos morte. A alma é uma relação externa do corpo consigo próprio. A alma é uma relação externa do corpo consigo próprio. A alma é uma relação externa do corpo consigo próprio. No interior da vossa alma não encontram nenhuma relação com o que quer que seja lá dentro. Nem lá fora.
René PolleschHoje: Who needs realism when we can have fakism com Cláudia Jardim.
quinta-feira, 7 de julho de 2011
Finito
A: O meu mundo está a encolher. Reduzir o mundo. Encurtar as distâncias. É uma província o meu mundo. E depois uma casa. E depois a largura de um cabelo. Deixei de ser todos e passei a ser um. A graça. Consegui finalmente ser aporia. Sou papel e depois desapareço. Decomponho-me. Há quem venda que um velho é como uma criança. Não é. Não me mexo. O mundo é que se mexe. E está a encolher. Porque andar já me cansa. Ou então andar cansa porque o mundo encolheu. Não sei e vou morrer sem saber. O meu mundo é minúsculo. E tu não estás aqui. Ponto final. Fim.
Catequese - Dia Sete

É preciso pensar mais para matar Jérôme Bel. Mas é possível. Basta querer.
Mentecapto, às quartas-feiras com André e. Teodósio
Amanhã: Terceira Idade com J.M. Vieira Mendes e Olho-te nos olhos, contexto de ofuscação social, com René Pollesch e Fabian Hinrichs
terça-feira, 5 de julho de 2011
Catequese - Dia Seis
C: Eu sou a mãe do noivo ou da noiva. E não quero comédia nenhuma em minha casa.
A: Mas isto é outra comédia. E é outro casamento.
C: Não quero nada disso aqui.
A: Mas isto é a ilha Vilhena. E ele é o General Garza e eu fui feito refém…
C: Pior ainda. A brincarem às guerrinhas. Não quero que confundam o casamento com uma comédia e a minha casa com um teatro.
A: Mas seu eu não fizer a comédia eles matam-me.
C: Há um nome para isso: 4 casamentos e 1 funeral. Próxima cena.
Trovão.
Hoje: What's in a name. Com Francisco Frazão.
sábado, 2 de julho de 2011
O discurso do herói
- Tu queres ser um gajo que faz de uma gaja que faz de um gajo que faz de uma gaja mas não és capaz de escapar ao facto de seres tu. Não podes nunca largar o teu ponto de vista. Porque mesmo que oiças o outro é sempre para ti que estás a fazer. Porque no fundo o que nós queremos é saber quem é que nós somos.
HERÓI: Mas quem é que é nós?
- Nós. Eu e tu.
HERÓI: Se há vida, ela é tanto humana quanto não humana, ela é tanto eu como tudo o resto. E os humanos são, de um ponto de vista ontológico, uma relação. Não há um ponto de vista pré-existente de onde emana a visão do mundo. Só há um ser no mundo que é dar-se com os outros, muitos dos quais não são humanos e muitos dos quais são actores no processo. E estas interacções produziram-nos aos dois. A seta não se move só numa direcção. E eu defendo a não-transcendência de tudo isto, atenção, isto não é transcendência, é finitude. Eu sou sempre media res. A vida é um verbo. E isto é uma metáfora importante mas limitada. O mundo está nos detalhes. Deve trabalhar-se a partir de uma situação muito particular mas ao mesmo tempo fazer-se afirmações extremamente arrogantes e generalistas, como por exemplo o comprometimento rigoroso para com a finitude, para com a morte e para com a não-transcendência, e a resistência ao universalismo e ao relativismo. Vamos arranjar maneira de dar um outro nome ao que se passa nas práticas de conhecimento. E que não seja aquela rivalidade do universalismo e relativismo porque ambas as hipóteses resultam numa escolha falsa. É abrir os olhos. Com o modo como a vida e a morte se estão a desarranjar não podemos deixar de largar os velhos binários duradores e recorrentes. Não quero nada disso, muito obrigada. E por isso uma das razões por que é difícil nomear a relevância abrangente desta comédia de guerra é porque se trata de uma comédia que vai contra essa relevância abrangente. É um argumento a favor de uma espécie de festejar na finitude. É uma comédia que diz que não há maneira de praticar uma acção ética fora de um verdadeiro comprometimento, não há maneira de listar as conclusões fora deste domínio da prática, e elas não têm de ser tomadas de um modo relativista mas sim com as práticas a exigirem coisas umas às outras o que por vezes resulta numa tradução parcial e numa comunicação gaguejante. É um ser em movimento que recusa a facilidade fechada do relativismo cultural ou do construcionismo social que insistem em exigir coisas no mundo e em exigir coisas uns dos outros, que insistem numa espécie de “aturar a vida uns com os outros” em nome de uma co-habitação da diferença, porque não somos iguais, e porque a tradução nunca é perfeita ou sequer se aproxima da perfeição. Surpresa: é por isso que a comunicação pode ter lugar, porque a tradução não pode ser perfeita. Não é uma barreira. É a condição da significação. A condição da linguagem é o tropo. E o tropo é tropeçar. Etimologicamente. Não há fazer sentido em geral, não há fazer sentido em particular. E então as perguntas são: quais são as perguntas que interessam? E isso é um problema sério. E tem que ver com levar a sério os dilemas das outras pessoas. Em destacar o que importa de um modo não arrogante e sem a ilusão de que estamos num campo de jogo igual para todos. É olhar para o mundo como herdeiros de histórias de trauma e violência, para não termos a ilusão de que estamos numa espécie de campo de jogo democrático. É perguntar com seriedade aquilo que importa e para quem e como resultado ver aquilo que somos chamados a fazer.
Catequese - Dia Quatro
Donna Haraway
Hoje: Aula de canto by Vasco Araújo