quarta-feira, 27 de setembro de 2006
15/11/05 Fnac Colombo 33,66€
Les Grands Spectacles (120 Years of Art and Mass Culture)
orgn. de Agnes Husslein-Arco + Margrit Brehm e Roberto Ohrt
Hatje Cantz
"The middle class too, having sorted out its interests in rising to the position of leading force in the world, took every effort to maintain a discreet distance from the former pleasures. In the late 19 th century, the established theatre had clearly eliminated all the typical ingredients from the old witches' kitchen of the spectacle. Since then, the German term Schauspiel (for the dramatic performances in the theatre) has had a more sober or sublime ring to it. Wild exaggerations, carnivalesque elements, freaks, agitation or apparent profanity - all that could only be tolerated on the cultural periphery, in sideshows and cabaret, in circus marquees, at the zoo or in the, mainly temporary, fun fairs that served to «amuse the people». "
Agatha Christie (Lyric)
About my dearest friend Agatha Christie
It was a sunny day
But she was feeling lousy
Her husband just fell in love with a bitch
And that was tragic, and that was tragic
Agatha was pretty fucked up
So she decided to get wasted
And so she did, and so she did
She was driving down the street
With her head full of whispers
So she jumped out of the car
To get some air
And nearby there was a river
And she was looking to her own reflection in the water
Saying: God, oh God… Why me? Why me?
So God decided to come down
And put his hand on her shoulder
Saying: Agatha don’t you cry no more
Agatha, you are beautiful to me
Agatha, Agatha
You have to trust your sexuality
Trust the beauty within
I’m you’re hero for the night
Let’s stay together
Come on, come on
Let’s stay together
After that evening
She felt herself reborn
So she decided to join a spa
With the bitches name
And nevermore, did she thought about suicide
Agatha, Agatha
Don’t you cry no more
Agatha, Agatha
You are beautiful
So beautiful
To me…
terça-feira, 26 de setembro de 2006
(Verão???) Feira do Livro ??€
Serenidade
de Martin Heidegger
Instituto Piaget
"O pensamento que calcula (das rechnende Denken) faz cálculos. Faz cálculos com possibilidades continuamente novas, sempre com maiores perspectivas e simultaneamente mais económicas. O pensamento que calcula corre de oportunidade em oportunidade. O pensamento que calcula nunca pára, nunca chega a meditar. O pensamento que calcula não é um pensamento que medita (ein besinnliches Denken), não é um pensamento que reflecte (nachdenkt) sobre o sentido que reina em tudo o que existe.
Existem, portanto, dois tipos de pensamento, sendo ambos à sua maneira, respectivamente, legítimos e necessários: o pensamento que calcula e a reflexâo (Nachdenken) que medita."
segunda-feira, 25 de setembro de 2006
Sobre a mesa a faca
" Fiquei muito tempo diante deste espectáculo com a impressão de estar a viver um momento importante. Por detrás desta curiosidade, reconheço, sem dúvida, uma componente de ansiedade, senão mesmo de angústia. O que me chamou sobretudo a atenção foi a tristeza que dele emana. Creio que tenho muita sorte. Faço aquilo de que gosto e sou pago para isso. Quantas pessoas neste planeta terão esse privilégio? A vida trata-me bem e eu estou-lhe profundamente reconhecido. Sei que tudo isto é frágil e está ameaçado, por isso tento usufruir plenamente enquanto dura. Vou-te contar uma história que me marcou muito. Tinha mais ou menos 10 anos. Era Inverno. Subia para cima dos bancos de neve nos bordos das ruas. Na noite, que quase já tinha caído, uma janela atrai a minha atenção. No interior, as luzes dos pinheiros de Natal piscam e cintilam. Há mamãs, há bolos, há crianças que cantam. A trepidez do lugar contrasta com o vento frio que me fustiga a cara. Queria estar ali. Nada tinha de semelhante à minha família, onde os estudos são a única e hegemónica preocupação. Tenho subitamente a impressão de passar ao lado da vida. Esta imagem de festa de crianças nesse dia de ventos gelados regressa-me muitas vezes à memória. Provocou em mim uma vontade feroz de viver e de criar vida. Apoiou-me em certos momentos em que, ultrapassado pelas emoções, fui tentado a fechar-me na minha concha. Tenho um desejo premente de ser afectivamente tocado por seres humanos. A palavra «compreender» não tem o mesmo sentido para toda a gente. Creio que uma fada boa me deu, quando nasci, um presente inestimável: uma espécie de optimismo inveterado e inextirpável, em relação, por exemplo, ao sentido da realidade."
03/12/04 Fnac Chiado 0€
Design and Crime (and other diatribes)
por Hal Foster
Verso
"What are the findings that Seabrook makes? Not surprisingly, they boil down to hypotheses about identity and class. "Once quality is deposed", he argues, identity is "the only shared standard of judgment." For Seabrook this identity must be "authentic," and it can only be made so in nobrow culture through a personal sampling of pop goods at the Megastore: "Without pop culture to build your identity around, what have you got?" "
sábado, 23 de setembro de 2006
sexta-feira, 22 de setembro de 2006
(2004) Tate Bookshop £19.99
Hardcore from the Heart (The Pleasures, Profits and Politics of Sex in Performance)
de Annie Sprinkle (edited by Gabrielle Cody)
Continuum
"Dear Reader. Gee it's been swell.
Possibly you're working on your dissertation, or you saw one of my performances and were curious about the behind-the-scenes aspect of them. Maybe you are a sex worker branching into the art world, or an academic branching into the sex world. You must be interested in theater, and you no doubt are interested in sexuality. Whoever you are, I am grateful for your attention and your interest in my work. I am honored and humbled by it. It is my sincere hope that you got something of use from this book."
terça-feira, 19 de setembro de 2006
(Verão 2004) Feira do Livro 15,64€
O mundo fragmentado (as encruzilhadas do labirinto)
de Cornelius Castoriadis
Campo da Comunicação
"Qualquer designação é convencional: o carácter absurdo do termo "pós-moderno" nem por isso se torna menos evidente. O que se nota menos é que se trata de uma derivação. Porque o "termo" moderno já em si é infeliz e a sua inadequação não podia deixar de se evidenciar com o tempo. Que poderá haver depois da modernidade? Um período que se chame moderno só pode pensar que a História chegou ao fim e que os seres humanos passarão a viver num presente perpétuo.
O termo "moderno" exprime uma atitude profundamente autocêntrica (ou egocêntrica). A proclamação "somos os modernos" tende a anular qualquer desenvolvimento ulterior verdadeiro. Mais do que isso, contém uma curiosa antinomia. A componente imaginária e autoconsciente do termo implica a autocaracterização da modernidade como abertura indefinida em relação ao futuro, e contudo essa caracterização só tem sentido relativamente ao passado. Eles eram os antigos, nós somos os modernos. Então como chamar aos que vêm depois de nós?"
PUBLICIDADE
foto: Luísa Casella
A Censura Prévia AC apresenta em Braga:
VOU A TUA CASA uma performance de Rogério Nuno Costa
mediante marcação prévia para os seguintes contactos:
962743638, 919960490 ou aqui
DIAS 21, 22 e 23 DE SETEMBRO DE 2006(quinta, sexta e sábado)
3 sessões por dia:15:00 h18:00 h 21:00
MAIS INFO: aqui ou www.vouatuacasa.blogspot.com ou +351 916 409 998
segunda-feira, 18 de setembro de 2006
(2003?) Viseu 9,45€
A falar da hospitalidade
de Jacques Derrida
Ed. Palimage
"A língua não é senão a partir de mim. Ela é também aquilo de onde eu parto, aquilo que me desvia e me separa. O que se separa de mim partindo de mim. O ouvir-se-falar, a dita «auto-afecção» do ouvir-se-falar-a-si-mesmo, o ouvir-se-falar um ao outro, o ouvir-se-falar na língua ou de boca a orelha, tal é o mais móvel dos móveis, porque o mais imóvel, o ponto-zero de todos os telefones móveis, o solo absoluto de todos os deslocamentos; por isso se pensa que a cada passoa a transportamos, como se diz, na sola dos pés."
Left-Overs IV
Ok, it has happened to everyone to be sitting around and then something totally uncalled for happens! (Eg. A beautiful sunny day turns cold and rainy) Maybe, just maybe it’s because some smartass is toying with us. Perhaps Earth is just another scenario in one of those Sim games and some little 6 year old is playing with all the keys! Just you wait, soon that kid is going to find the "Quit this Game" button! Then what will happen????
sexta-feira, 15 de setembro de 2006
(há duas semanas) Fnac Chiado 29€
(finalmente a obra completa, mas completa MESMO)
Guy Debord
Oeuvres
Quarto-Gallimard
"Je devrai faire un assez grand emploi des citations. Jamais, je crois, pour donner l'autorité à une quelconque démonstration; seulement pour faire sentir de quoi auront été tissés en profondeur cette aventure, et moi-même. Les citations sont utiles dans les périodes d'ignorance ou de croyance obscurantistes. Les allusions, sans guillemets, à d'autres textes que l'on sait très célèbres, comme en voit dans la poésie classique chinoise, dans Shakespeare ou dans Lautréamont, doivent être réservées aux temps plus riches en têtes capables de reconnaître la phare intérieure, et la distance qu'a introduite sa nouvelle application."
Left-overs III
Yawning Is Contagious: You yawn to equalize the pressure on your eardrums. This pressure change outside your eardrums unbalances other people's ear pressures, so they must yawn to even it out. Therefore in rather a Popperian movement, the movement of today’s possible yawn is nothing less than the perpetuation of the first Historical yawn.
quinta-feira, 14 de setembro de 2006
Left-overs II
I will start my theory with a definition of West: n. from the greek occedere, which means where the sun disappears, darkness. And it is very curious that almost all masters in literature are blind such as Tiresias, the blind master of the Greeks. They, the blind masters, are a representation of the occident, of the West. They have their eyes shut to the outside so they can have some new and personal ideias. In conclusion, blindness may be a way to the aufklarung (enlightenment).
quarta-feira, 13 de setembro de 2006
(Verão) Feira do Livro 2005 2€
Onde vais drama-poesia?
de Maria Gabriela Llansol
Relógio D'Água
"Estive quase a dar ouvidos a essa voz humana que insistia que eu estava a crescer mal."
"Fugir ao destino do vate. Fugir à mediocridade da autobiografia."
"O preocupante é sentirmos o nosso pensamento a perder ritmo, a desacelerar, a encostar-se à berma da imagem."
"Haverá alguém que, por sua livre vontade, queira ser vagabundo? Por que se lhes exige o preço - e um preço tão elevado -, pela sua errância? Por que são tão implacáveis com o novo?"
"Onde encontras tu uma comunidade?"
Left-overs
1st theorie – Large Trousers
Everyone knows that poverty has always existed. But my theory around large trousers has its focus on the poverty produced by the apocalyptic nourishment of the industrial advent. The base of my thesis is that, since the empowerment of the middle class, with it’s rise to a kind of richly modus vivendi of bourgeoisie, the space between the lower class and the middle class has deepened, and therefore poor got thinner as the richer got fatter. And since the poorer have always kind of recycled in some medieval way, things and objects left or abandoned by these new noble people, the pants which they get hand to in some garbage can or in some charity shop, have also growned. So, in a very unexpected way, whereas we would think that it would be the other way around, they try to fit their little bodies into those large trousers. And because lifestyle is destined to a massive number of people, and since the poorer have growned in percentage, by a tautological deduction, what was born as a necessity has become a master rule of the aesthetics of society. Everybody wants to wear large trousers. Here lies the big problem. As the rich get larger, and since they want also a part of the cake, they will demand industry even bigger trousers for their big bodies. And therefore, one day we will have a pair of trousers so large that will dress the whole world.
terça-feira, 12 de setembro de 2006
segunda-feira, 11 de setembro de 2006
PUBLICIDADE
FIN DEPARTURE
a mare e gratis (sem acentos) ou o pinga amor
Praia do Clube Naval Barreirense
15 e 16 de Setembro, às 21.30 - ENTRADA LIVRE
"O espectáculo FIN DEPARTURE - a mare e gratis (sem acentos) ou o pinga-amor é um espectáculo informal, tal como já fizemos com amor e gratis (sem acentos), em Março, no contexto do Mês do Teatro. Estes espectáculos são apresentações baseadas num princípio de experimentação artística, de pesquisa das convenções e linguagens artísticas. São criações marcadas pela brevidade, pelo risco e pela espontaneidade. A exigência de criar e decidir com rapidez conduz a uma maior consciência do acto artístico e do acontecimento teatral."
Vigilâmbulo Caolho
sexta-feira, 8 de setembro de 2006
Um jogo pessoal (talvez universal)??....
Jelinek-l-ace-ventura
Derr-ida-nha-a-nova-dança portuguesa
Jean-Luc Goda-rre burro que amanhã é sexta
Charles Peirce Bros-Non ou a vã glória de mandar
Heiner Mül-ler devagar se vai ao longe da vista, longe do coração
Romeo Caste-lucci-ano Pavar-ó! Ti-a Anica!
Jérôme Bell-miro de Azev-ade retro Satanás
Marc Augé-ma d'ovo-lacto-vegetari-ano bissexto
Guy Debord-a d'água mole em pedra dura, tanto dá até que fura
Pierre Bour-Dieu, Patrie et Famille
Chris Burden-merda
Erwin Wurm-ester de Carv-alhos e bugalhos
Nuno Bragança de Miranda do Corvo
Thomas Bernhard-rock hallelujah irmãos catita
Pina Bausch&Lomb-o de porco assado no forno
(© RNC)
PUBLICIDADE
Tudo sobre o espectáculo no blog do Cão Solteiro: clique aqui.
quinta-feira, 7 de setembro de 2006
(Verão 2005) Napoli 8.78€
Pragmatismo e oltre
por Charles S. Peirce
Edições Bompiani
"Ora, Lettore, como definiresti un segno? Non sto chiedendo come sia usata normalmente questa parola. Voglio una definizione quale uno zoologo la darebbe di un pesce, o un chimico di un corpo oleoso o di un corpo aromatico - un'analisi della natura essenziale di un segno, se bisogna usare la parola in quanto applicabile a tutto ciò deve riguardare la scienza generale della semiotica (semeiòtic) come matria del suo studio; sia che esso abbia la natura di una qualità significante, o di qulacosa che una volta pronunciato è passato per sempre, o di un modello stabile, come il nostro solo articolo determinativo; sia che sostenga di stare al posto di una possibilità, di una cosa singola o di un evento, o di un tipo di cose o di verità; sia che sia in relazione con la cosa che rappresenta, verità o invenzione che sia, imitandola, o come un effetto del proprio oggetto, o per una convenzione o abitudine; sia che lanci il suo appello per simpatia, per enfasi o per familiarità; che sia una parola singola, una frase, o Declinio e caduta di Gibbon; la natura di uno scherzo, o sia sigillato e controllato, o che poggi su una forza artistica; e certamente non è che mi fermi que perché la varietà dei segni sia in quelque modo esaurita."
quarta-feira, 6 de setembro de 2006
Texto
Latas de Tinta
Levaram-me tudo. Roubaram-me tudo. Anularam-me tudo. Desintegraram-me tudo. As imagens da TV. Gratuitas, já sem taxa cobrada. E eu choro. Com o punho erguido. Com a flor torneada pelos dedos. Aquela realidade que não é a minha, e ao mesmo tempo é real. Isto é, está a acontecer na realidade. Aos meus olhos. A realidade que só consigo imaginar a preto-e-branco. Ou a sépia. Não a cores. Nunca a cores. A cores não. A cores é a outra realidade. O vermelho do bólide do puto sépia. A preta e o branco que estão rosados/roçados nos bancos da medieval Portugália. A noite azul que tranca todas as liberdades em quatro paredes de sólido tijolo invisível coberto por betão multicolorido de tintas decididas, decididamente, como as do ano; tudo e todos frente a uma TV que já não precisa de ser vista às escondidas em prateleiras de metal marmóreo, ou caves improvisadas contrabandeadas do leste; famílias inteiras condenadas pela fábula, à procura de novas tonalidades.
Mais, o dia amarelo pardacento que devolve essas liberdades à calçada tonificada de antiquíssimos cagalhões e mijo de pombo, para finalmente, sim, acabarem de vez com a árdua tarefa de privatizar os seus desejos e direitos. E mais ainda. As lojas giras que me inundam de geometria e efeitos. As gentes rasando, de livro na mão, as montras culturais nobres que destacam esse mesmo livro, e toda a panóplia artesanal da aldeia universal. Coisas importantíssimas. De outra forma não teríamos acesso. As gentes arrogantes que te entreabrem os olhos usando as suas pestanas pincéis para se pintarem e pintarem o país de cores garridas, para tapar a negridão do seu interior, o sépia do seu cérebro.
E eu choro. Com o punho erguido. Com a flor torneada pelos dedos. Aquela realidade que não é minha, e ao mesmo tempo é real. Todos os anos na mesma data. A minha avenida é interrompida. E lá me encontro eu interrompido no meu trajecto. Dentro do carro. Cigarro na boca. A ouvir berros de apoio, choro convulsivo. A imagem da CDU. A mesma que se via da ponte 25 de Abril, lá em baixo no Ginjal, julgo eu, durante paragens intermináveis de Verão a caminho da Fonte da Telha. E eu choro. Com saudades não sei bem de quê. Das histórias ilegais dos meus pais, de quem não faço sequer a menor ideia de que tivessem sido alguma vez jovens. Os canteiros plantados da Calle, localizados não sei bem onde. O Penim sénior que dorme assaltado por imagens de tiroteios desenfreados no corno sabe-se lá bem de que floresta. A Bella Ciao, e qual é a versão original, perguntar-me-ia eu para passar o tempo naquele maple-single-sem-braços e sem espaço para esticar as pernas. E o Pêra de câmara-ao-léu no meio do cortejo maioritariamente debilitado e sustentado por varas herdadas. E as cooperativas, vi na TV, que ideia maravilhosa. Bem… lembro-me da UCAL. Cheguei a beber. E o Zip-zip, comprei um vinil 45 rpm há pouco tempo na feira da ladra. Uma foto a preto e branco, com o Carlos Cruz, novo, parecido com o meu pai numa fotografia que eu tenho, dizem milhares de pessoas como eu em coro. E a Lisboa das grandes avenidas; Wagner num livro de música, tenho a foto, a preto-e-branco também.
Misturo tudo.
Divido a vida por cores: a parte a preto-e-branco, e a multicolor. Divido-a por actividade: a parte a preto-e-branco é cheia de Vida, e a multicolor está morta. E acuso frequentemente como assassinos desta minha era os mesmos que deram movimento à anterior, seja lá ela a que for. E esse movimento embora possa facilmente ser associado a Vida, é a meu ver, simplesmente um acto mecânico, o ir à procura de pincéis para pintar esta merda toda que me gira à volta. Um caralho de país que no interior está esturricado e bolorento ao mesmo tempo, e por fora bandeirola de uma puta de produtos cosméticos. Será que posso dizer isto, perguntaria a atrasada mental da agente cultural da 2:? Claro que podes minhota de bigode, isto é muito mais colorido do que os “de todo”, e…….
- Já posso passar, senhor polícia? (Pausa.) É que vou ali ao hospital, fazer uma transfusão de sangue… mas quando voltar, estaciono para ali… fora da avenida. Desculpe? Ainda não decidi, talvez troque com o Nuno Bragança, ou o José Mário Branco, e que tal o Sérgio Godinho. Pode ser com o Otelo. Ou mesmo com um pide. Eh pá, é que mais do que sentir, também quero saber. Não tenho liberdade para saber como é que foi?
André e. Teodósio
06-04-2004
* Texto escrito a convite do Jornal de Letras para as comemorações do 25 de Abril (nunca chegou a ser editado)
(um belo dia em 2005) Fnac Colombo (cerca de 17 €)
Jean-Luc Godard - Interviews
edited by David Sterritt
University Press of Mississippi
"I'm sorry, I can't answer that question because I see no difference between the concrete and the abstract."
"Before I was an amateur in a professional system. Now I'm a professional in an amateur system."
"I see no difference between the theater and movies. It is all theater. It is simply a matter of understanding what theater means. That is not generally understood. I mean, what do you call the place where a movie is seen if it is not a theater?"
Publicidade
terça-feira, 5 de setembro de 2006
Texto
Este é o ponto de partida.
Bem, comecemos assim. Estou aqui. Á tua frente. A ler-te isto que escrevi. O tema deste texto é transdisciplinaridade. Portanto é isto mesmo. Sim, confiro. Como é que dois corpos (duas estruturas), ou mais, uma orgia de corpos (de estruturas), produzem um outro corpo (outra estrutura). Um filho? Produzido nessa confusão libidinosa? Como agora. Vocês miram-me. E eu não vos miro. No entanto sei que fiz isto e vocês sabem que estão a ver. Não há nada entre nós. Só isto. Este agora. Vou dizer ‘agora’ para ser agora. Agora. No entanto não posso dizer aqui. Porque não sou eu. Nem és tu. Sabemos que isto está presente. Mas não sabemos como. “Eu não sou eu /nem sou o outro/ sou qualquer coisa de intermédio”. Não, também não é isto. Estaria certo se estivesse a falar sobre um objecto interdisciplinar. Tenho sempre este costume de escrever a palavra disciplinaridade com E, disciplinari(E)dade. Facto que resulta do hábito de assinar (eu e a minha família materna) com um E entre o nome e o sobrenome. E logo todas as palavras complexas (isto é, longas) para mim têm sempre um E algures no meio. Faz parte do meu sangue. Da minha transdisciplinaridade visível interdisciplinarmente.
Prossigo.
Transdisciplinaridade. Eis o enigma, ou melhor, para pseudo-citar Eduardo Lourenço, a esfinge. Etimologicamente há uma grande diferença (apesar de na prática, todas as palavras difíceis do saco semântico da artes pertencerem à mesma ideia, i.e. a de experimentação), dizia eu, há uma grande diferença entre as palavras transdisciplinaridade e interdisciplinaridade. Uma diferença assaz importante para estabelecer as bases deste texto. Poderia simplesmente transportar tudo para a palavra Gesamtkunstwerk, e sobre esta fazer um discurso algo evasivo sobre a questão. Gesamtkunstwerk. Reequacionar este problema contemporâneo através da eterna contemporânea Obra de Arte Total do eterno contemporâneo Richard Wagner. Mas não. Vou tentar evitar clichés, de uma vez por todas.
Tento a perfeição.
Vou ao dicionário. Um pouco pesado. Aposto que o dicionário modernista é bem mais leve. Pois bem. Interdisciplinar: aquilo que diz respeito a duas ou mais disciplinas em simultâneo (portanto, um terceiro corpo que torna possível a coexistência de diferentes células (as células da árvore genealógica, por exemplo)). O facto de, como já anteriormente referi, eu escrever interdisciplinaridade com um E no meio, é disso um bom exemplo. A criação de uma nova palavra através da coexistência de duas células diferentes: 1) uma palavra reconhecível como léxico instituído (raciocínio), e 2) um E meramente visual (afectivo). Interdisciplinari(E)dade, uma terceira palavra. Ora, o prefixo trans diferencia-se do inter por exprimir a ideia de ir para além de, através de. Portanto, não diz respeito a qualquer coisa (como no caso do inter), mas ultrapassa largamente (e já estou eu a ultrapassar) essas mesmas coisas (no caso de trans). Sendo assim, Trans pode também assumir outras formas como: tra, tras, tres. O que em si define tudo. Enquanto que inter inter est. Inter é inter. Ela é ela mesma. Inter. Trans é trans, mas também pode ser qualquer outra coisa: tra, tras, ou tres. Encarna. Tra, tras, tres, tra, tras, tres, tras, tras, tres. Errei, é isso mesmo que ela quer, está sempre em constante (Trans)formação. Ao contrário da inter, trans não é ela, é sempre uma outra coisa. Mata o Pai e mata a Mãe. E é esta a grande falha teórica contemporânea, ao obrigar a transdisciplinaridade (que sabe-se lá porque é que a inventaram) a agir segundo os costumes e ditames da interdisciplinaridade. Porque enquanto a interdisciplinaridade é reconhecível, a transdisciplinaridade, como mutante que é, nunca se reconhece.
Resumindo.
A interdiscipliniari(E)dade ( e o facto de ter errado é já em si o exemplo auditivo deste conceito) é a coexistência em tempo real de um número plural de formas, ora cruzando-se (aquilo a que eu chamo uma relação afectiva) ora não; isto é, comunicando paralelamente (relacionando-se racionalmente). Estas duas perspectivas (bem como todas as outras, provavelmente) só são possíveis de consciencializar no modus operativo do autor. O espectador não tem, nem deverá ter esta capacidade de diferenciar em tempo real estas características (ou tenta-se que não tenha), para puder usufruir da melhor forma possível o trabalho que lhe é apresentado (esse terceiro objecto). Mas a transdisciplinaridade não cruza nem paralela. Não se importa a quem é que é obrigada a apresentar-se. Não tem consciência do que ela é. Porque ela já não é ela. Em termos libidinosos, diria que a interdisciplinaridade é quando um casal faz amor; e a transdisciplinaridade o resultado desse amor ( e não necessariamente desse casal) sob a forma de um/a pré-adolescente na fase difícil de crescimento. A transdisciplinaridade é, assim, um nonato. O bebé que é suposto vir e não vem. É forçado a sair, portanto veio. Foi-se-lhe a vontade, e veio-nos o proveito. Vai e vem. Um projecto transdisciplinar. O bebé arrancado do corpo da mãe. A teenager louca por subir aos andares das compras. Figuras tutelares assassinadas. Nome assinado sem prefixo, e sem E no meio.
Este é o ponto de chegada.
Um vazio total para dar voz à transdisciplinaridade.
André e. Teodósio
Abril/Maio de 2005
*Texto escrito e gravado em video para o espectáculo de Nelson Guerreiro (sim, o homem que escreve ao lado de Marc Augé): 'Vaivém - a história verdadeira de um projecto transdisciplinar'.
Livros
Nobel (sobre teatro): II
Brecht out of fashion
by Elfriede Jelinek
I am very interested in fashion. And since now even the hippie look of the late sixties has become fashionable again as grunge, and has naturally also disappeared the way fashion always does, I ask myself whether misery, poverty, and exploitation as literary subjects can come into and go out of fashion just as well. Brecht's leather coat, for example, this icon in the photographs, a piece of clothing deliberately sewn together crookedly (so that the collar would nicely stick out!), proves to me that appearance--that which is "put on" the literary subject matter--was very important to Brecht. But if the tireless naming of victims and their exploiters remains something strangely external to his Didactic Plays, something like a sewn-on collar (even though the naming of perpetrators and victims is really the main point), one could say that the work of Brecht, just like fashion and its zombies, very visibly bears the date stamp of his time. It is, however, exactly in the disappearance of the opposites, which are exposed as mere externals (misery and luxury, poverty and wealth), that the differences, strangely, come ever more irrefutably to the fore; and that is precisely what Brecht wanted! The basic tension, namely the gap between the real and what is said, is incessantly thematized by Brecht. Language fights against its subject matter, which is put on it like clothing (not the other way around!), a subject matter which is a piece of fashion; but how is one to describe fashion now? One can't. Thus the opposites master/servant etc., not unlike clothing, elude any description--even mock the very attempt at it. The real truth about these appearances we have to regain, time and again, from the codes of the externals by which the members of class societies are catalogued like pieces of clothing. That is to say, we have to look for the opposites behind the subject matters. Since we will not succeed, as little as Brecht could ever have succeeded in producing such a description (because the description would have used up everything that there might have been as its own raw material), there remains, even in Brecht's Didactic Plays, which seemingly are entirely congruent with their function, an ineffable, indescribable residue about which nothing can be said. And it is only about this residue that one can now talk.
segunda-feira, 4 de setembro de 2006
Livros
Não recebo royalties.
Não sou amigo de nenhum dos autores (não à letra, infelizmente)
Por favor leiam.
Um livro por semana não faz mal a ninguém, e um por dia muito menos.
Porque o que é bom, deve ser muito difícil. (Steiner)
Livro I
(2004/12/17) Livraria Bertrand 9.43€
A Idéia do Teatro
de José Ortega y Gasset
Editora Perspectiva
"Agora podemos dar uma segunda definição do Teatro, uma migalha mais completa que a primeira e dizer: o Teatro é um edifício que tem uma forma interior orgânica constituída por dois orgãos - a sala e cenário - dispostos para servir as duas funções opostas mas conexas: o ver e o fazer ver."
Nobel (sobre o teatro): I
by Elfriede Jelinek
I don't want to play, and I don't want to see others play, either. I also don't want to get others to play. People shouldn't say things, and pretend they are living. I don't want to see that false unity reflected in the faces of actors: the unity of life. I don't want to see that play of forces of this "well-greased muscle" (Roland Barthes)--the play of language and movement, the so-called "expression" of a well-trained actor. I don't want voice and movement to fit together. In Theatre Today something is being revealed--invisibly, for all the stage strings are pulled behind the scene. The machinery, in other words, is hidden; the actor is surrounded by contraptions, is well-lit, and he walks about. Senselessly he imitates human beings. He produces nuances of expression, and he pulls a whole other person out of his mouth, a person who has a fate that is being laid out. I don't want to bring to life strange people in front of an audience. I don't know, but somehow I prefer not to have anything on stage that smacks of this sacred bringing to life of something divine. I don't want theatre. Perhaps I just want to exhibit activities which one can perform as a presentation of something, but without any higher meaning. The actors should say something that nobody ever says, for this is not life. They should show work. They should say what's going on, but nobody should ever be able to say of them that something quite different is going on inside of them, something that one can read only indirectly on their faces or their bodies. Civilians should say something on stage.
A fashion show perhaps--during which women speak sentences in their clothes. I want to be shallow!
A fashion show, because on that occasion one could also send out the clothes by themselves. Get rid of human beings who could fabricate a systematic relationship to some invented character! Like clothes, you hear me? Clothes don't have their own form either. They have to be poured over bodies that ARE their form. Sagging and neglected hang these covers, but then somebody gets into them, somebody who talks like my favorite saint, and who exists only because I exist: I and the one who I am supposed to be--we won't appear on stage anymore.
Neither individually nor together. Take a good look at me! You won't ever see me again! Deplore it! Deplore it now. Holy, holy, holy. Who, after all, would be able to tell what characters should say what in a theatre. Any number of them I line up against each other; but who's who? I don't know these people! Every one of them could be someone else, and could be represented by some third party who is identical with a fourth, without anyone noticing it. A man says. The woman says. A horse comes to a dentist and tells a joke. No, I don't want to get to know you. Good bye!
Actors tend to be false, while their audiences are genuine. For we, the audiences, are necessary, while actors are not. For this reason the people on stage can be vague, with blurred outlines. Accessories of life without which we would leave again, pocketbooks glued to the slackening crooks of our arms. The actors are as superfluous as these bags--filled as they are, like dirty handkerchiefs, with candy boxes, cigarette cartons, and--yes!--poetry. Blurred ghosts. Products without sense, for their sense is, after all, "the product of a supervised liberty" (Barthes). For every move on stage a certain quantity of liberty is available from which the actor can take a portion. There is the pond of liberty, and the actor--please help yourself!--takes his portion of the juice, his distress-liquid, his secretions. There's no secret about that. He adds his snot. But however much he is going to take from his supply of gesturing and strutting about, the gabbing must be imitable, for he and others like him must be able to mimic it exactly. Like fashion clothing: Each piece is defined, but at the same time not too tightly delimited with respect to what it is supposed to do. Sweater, dress--they all have their leeways and holes for the arms. Yes. And what's really necessary: that's us! We don't have the liberty to be false. Those guys on the stage, however, they do. For they are the ornaments of our life--movable and removable by the hand of God, the director.
And then he tears down a whole chunk of human beings and saddles us with something he likes better. Or he will shorten the human smock by re-aligning the hem--this executive of a regional office of a toy store chain. Don't bother us with your substance! Or with whatever you use to fake substance--like dogs who circle each other with excited growls. Who's the boss? Don't be presumptious! Go away! The meaning of theatre is to be without sense, but also to demonstrate the power of the directors to keep the machinery going. Only with his own importance can the director make the empty shopping bags glow--those sagging, leaking recepticles with more or less poetry in them. So, suddenly the meaningless has meaning! When Sir Director reaches into eternity and pulls out something wriggling. At that point he murders everything that was, and his production, although itself based on repetition, becomes the only thing that is allowed to exist. He negates the past, and at the same time censores (fashion!) that which lies in the future, for that will have to heed what he lays down for the next few seasons. What lies in the future will be domesticated, and whatever is new will be regulated before it even exists. Then a year passes, and the newspapers are screaming again with joy about something new, something unpredictable, which replaces the old. And the theatre starts all over again; the past can be replaced by the present--can be redeemed. The present, nevertheless, always has to bend over the past. That's why there are trade journals. To be able to see anything one has to have seen everything.
But now to our collaborators: How can we remove these dirty marks, these actors, from the theatre, so that they won't pour themselves from their zip-lock packages all over us? I mean: That they won't overwhelm us with their fluids! For it is these people who disguise themselves, who drape themselves with attributes, and who arrogate a double life to themselves. These people allow themselves to be multiplied without running any risk, for they won't ever get lost. In fact, they don't even toy with their own being! They are always the same; they never fall through the bottom, and they never rise into the air. They remain without consequence. Let's simply remove them from the inventory of our life! Let's flatten them out into zelluloid! Perhaps we'll make a movie out of them. From there the odor of their sweat (symbol of a work from which they have tried to escape by way of a luxurious personality) won't be able to waft over to us. But a film as theatre is not a film as film! Just aim and shoot! What you see it what you get. Nothing can be changed, and thus the eternal recurrence of that which is never quite the same will be subverted. They will simply be banned from our lives. They will be punched into piano rolls that whimper wobbly tunes. They drop out of our body perception and turn into surfaces that move before our eyes. They become impossible, and thus don't have to be outlawed, for they are nothing, and they don't exist anymore. Or else: With every performance a whole new crew will take over, and they will do something totally new every time they perform. They have a supply of possible moves, but as with our clothes, nothing will be repeated the way it was done before. It's only time that threatens us with passing away! There must be no theatre anymore. Either the same will always be repeated in exactly the same way (film documentation of a secret performance which can be seen by us humans only as this UNIQUE and ETERNAL repetition), or never twice the same!
Always something quite different! Nothing lasts forever, anyway. In the theatre we can prepare ourselves for entering the dimension of time. Stage people do not perform because they are something, but because their unimportant traits become their real identity. Their wild gesturing, their clumsy, wishy-washy pronouncements, put in their mouths by those who do not comprehend--only by this are they distinguished from each other. They assume, indeed, the identity of persons whom they are supposed to represent, and they turn into ornaments, into performers of performers--in an endless chain. On the stage the ornament becomes the essential thing. And what's essential--Hold it! Step back!--becomes decoration, mere effect. Without being concerned with reality the effect becomes reality. The actors signify themselves, and they become defined by themselves. And I say: Get rid of them! They are not real! Only we are real. We are most of what there is when we, slim and chique, hang in our elegant theatre outfits. Let's look exclusively at ourselves! We are the performers of ourselves. We don't need anything besides us. Going into ourselves, and staying inside--everybody hopes, after all, that as many people as possible will look at him, as he struts through the world, regulated by magazines and their pictures, like a well-greased machine. Let's become our own patterns, and sprinkle snow, meadows, and knowledge with--with what? With ourselves! That's how everything is all right.
Translation: Jorn Bramann
in: Theater Heute Jahrbuch 1983, S. 102.