domingo, 16 de setembro de 2012

ERRATA

Horas depois de ter acabado o Marco Alemão tenho a dizer que me enganei. 
O Discotheatre remixado pelos Medalha d´Ouro não era um concerto. Também não era uma exposição, nem um show de teatro e muito provavelmente não seria performance. Foi mais que isso. Foi o final de um encontro do qual ninguém saiu com uma palheta do baixista.
Não sinto qualquer necessidade de avaliar artisticamente qualquer uma das actividades do dia que passou, não só porque não tenho competências para isso, mas porque o artístico já está no ADN da maioria dos participantes. 
Entenda-se que não pretendo dizer que todas as pessoas que participaram no Marco Alemão são portadoras de um talento inato e muito espectacular. Está-lhes no ADN porque ontem ninguém teve de se preocupar com artes ou meias artes, cenas ou meias cenas. Foi um encontro, mas sobretudo uma celebração do que cada um já é. Não houve espaços para touradas nem picarias. Aqui os senhores e as senhoras trataram-se todos por tu. Coincidência ou não, no dia em que houve uma das maiores manifestações apartidárias em Portugal, no Goethe-Institut desde os miúdos de cinco anos que já dominavam perfeitamente duas línguas até à recepcionista do Institut que passou o dia a ver vestidos da Angelina Jolie num site feminino, todos viram e mostraram de uma forma muito honesta e despretensiosa. 
Se as relações políticas entre os dois países são uma merda, aqui o encontro foi muito mais pacífico, co-sensual e honesto. 

PS.: Quanto ao Vogue Fashion´s Night Out, a comparação que posso fazer é que nos dois eventos eu fui o mais charmoso.

Até um dia destes,
rodrigo 


Piñata de conceitos, arma de arremesso ou o Discotheater dos Medalha.  

After-Hours em Alemão

Estamos a entrar nas últimas quatro horas deste encontro de titãs. 
Para trás ficaram dois filmes do André Godinho, o primeiro, "La Chambre Jaune", e o segundo criado especialmente para o evento de hoje. Voltando às comparações, se no Vogue Fashion´s Night Out desfilou muita gente bonita e famosa, nós vimos no mesmo ecrã "estrelas" como a Soraia Chaves, a Soraia Chaves ou até mesmo a Soraia Chaves.

Seguiu-se o concerto de Folk Vago de Norberto Lobo e Pedro Sousa que desenharam o ambiente para umas rodadas de cerveja ali pelo jardim. A esta altura começaram a chegar pessoas vindas da manifestação e provavelmente de outros sítios, as que já por aqui estavam estão agora bem mais alegres.  A cerveja é só 2.20€! 

Mas a entrada está a encher e a multidão histérica prepara-se para o Discotheatre Remix. Se a passadeira da Avenida da Liberdade era em tons de roxo, aqui mantem-se o espírito clássico e a passadeira vermelha está cheia de gente das artes e da "cena" para vir ver os Medalha d´Ouro. Vão ser quatro horas a rasgar, esperamos todos.

O encore é quase garantido e agora vou para a fila da frente para tentar apanhar uma  palheta do baixista.

Já volto para dizer se isto está bom!

Até já,
rodrigo 


sábado, 15 de setembro de 2012

A Paula Sá Nogueira quer saber qual é o prémio.
O quizz vai começar, mas as mesas da frente estão vazias. Este público não foi devidamente germanizado...

karmas e troikas

Nietzsche vê a genealogia da moral no problema da dívida. Ou seja, mais ou menos a moral começa quando te emprestam e depois  tens de pagar. Porcaria de moral. Hoje manifestação contra a troika. Mas e o karma? Quem acredita no karma? Quem acredita no karma acredita que a vida está assente na moral da dívida. Fazes merda e depois tens de pagar. Pelo karma, reencarnas (que palavra repugnante). Maldigo quem acredita no karma. Manifestação contra o karma. Ou então, pela igreja protestante, a inventora do valor do trabalho: Se fazes merda, tens de trabalhar, para pagar. No meio disto, prefiro a igreja católica do sul, que inventou a confissão. Se fazes merda, arrepende-te, pede desculpa e está tudo bem. E nem preciso de acreditar em deus.
Red shoes are so last century. 
Yes, we are.
Este foi o dia em que descobrimos que Portugal é uma pequena economia que se comporta como se fosse grande. E que a Alemanha é uma grande economia que se comporta como se fosse pequena.

Na extraordinária conferência de José Manuel Félix Ribeiro contextualizou-se a relação económica entre Portugal e a Alemanha, e explicou-se o problema da entrada da Europa no Euro. Sobretudo,  procuraram-se soluções para a economia portuguesa no contexto de um mundo globalizado.  Possibilidades seriam focarmo-nos em áreas como o ambiente e os recursos naturais, na localização privilegiada e no espaço disponível que temos, nas competências tradicionais industriais e nas engenharias, nos pólos de conhecimento e de novas competências (que necessitam de mão-de-obra especializada). Esta reflexão, ausente tanto do Programa do Governo quanto dos memorandos da Troika, permitiria a pouco e pouco encontrar um vislumbre de solução para o País.

Ser um bom backoffice para as multinacionais poderia, de facto, servir de resposta para uma economia empobrecida e permitir a nossa reentrada num mercado globalizado. Pergunto-me apenas que sucederia na próxima bubble.

Manifestação em Alemão

Foram duas as horas que estive ausente do Goethe-Institut para que pudesse marcar presença num evento paralelo também comissariado pelo Teatro Praga.
A manifestação desta tarde está também incluída no Marco Alemão porque a Troika é também um símbolo claro das estreitas e delicadas relações entre estes dois países.
Nesse sentido, alguns espectadores e artistas anónimos e famosos, rumaram do Goethe-Institut até à frente do Liceu Camões para interpretarem umas palavras de ópera bufa encenadas pelo André e. Teodósio. De lotação quase esgotada a Manifestação co-criada pelo Teatro Praga, São José Lapa, entre outros, foi um dos pontos altos do dia porque muito provavelmente nunca haverá dinheiro para fazer um Marco Português. 

Apesar de tudo, o estilo revolucionário é um dos que mais se vê por aqui, sobretudo no jardim onde dois jovens graffitam no muro a destruição do próprio muro.


PS.: Não referi nenhuma comparação ao Vogue Fashion´s Night Out porque essa é óbvia. A manifestação de bom-gosto, glamour e de camisas brancas sobre a calça de ganga foi também uma prática muito revolucionária protagonizada por figuras como o líder da JSD ou o já citado M. Sousa Tavares.
Até já,   
rodrigo

Weltanschauung


A pretensão enorme de que pode existir uma visão do mundo. A ideia iluminista de que a razão abarca o mundo. antes do conceito propriamente dito existir foi preciso, no renascimento, conceber-se a natureza como uma coisa legível, um livro, um texto. O mundo poder ser lido. Haver uma ordem, uma gramática, cujo código podemos aprender. Depois, para Kant, weltanschauung, aparece no sentido do mundo tal como aparece aos nossos olhos. No sentido da percepção. Com o romantismo alemão, passa-se para uma ideia de concepção do mundo e não de percepção do mundo. Primeiro temos a ideia, e depois é que sentimos de acordo com a ideia que temos. O confronto com o mundo real nunca altera a ideia elaborada à partida. Foi talvez isto que permitiu mais tarde os nazis apropriarem-se desta palavra e afirmarem que a visão do mundo só pode haver a deles, e portanto se pode matar em nome de uma visão do mundo. Chegaram a querer substituir filosofia por visão do mundo. Depois do nazismo é preciso negar a pretensão da ideia da visão do mundo, não é? Ou já não? Se calhar já se negou. Se calhar negar uma visão do mundo já é uma visão do mundo outra vez . como é que chegamos a outra coisa, como é que atravessamos, como é que traduzimos?
No entretanto, há quem se banhe na Fontana di Trevi.

Estes actores são mesmo muito bons: veja-se a qualidade do seu alemão, a subtileza no gesto, o modo como transmitem as matizes do texto, a expressividade da linguagem, chiça, esse arco narrativo, a clausura perceptível na variedade de emoções transmitidas ao público,  o desbravar de terrenos nunca antes conhecidos, livra, o hiperbolizar do gesticular. Wunderbar!

- Afinal ainda aqui estás?
- Não, fui-me embora.
Etc, etc, etc, tudo isto dito em alemão por actores que não percebem alemão. E o público vê as legendas em português na parede. Genial.

Mais texto

Algures no jardim está a passar em loop uma série de culto alemã da qual não consegui perceber nada. Já me sentia suficientemente ignorante ao ver o alemão passar-me ao lado e uma doce criança conseguiu aumentar, ainda mais, esta minha ignorância quando lhe perguntei em português se ela conseguia perceber alguma coisa do que estava a ver. Num português melhor do que o meu respondeu-me que sim e traduziu-me duas ou três falas da série.
Esta história torna-se ainda mais interessante quando comparada ao Aftas Ardem, Feridas Idem onde quatro actores dão corpo e voz a uma leitura encenada de um texto em alemão. Ainda que um dos actores tem ares bastante alemães, os restantes aparentam não perceber nada do que estão a dizer e podemos acompanhar em directo a tradução numa parede ao lado. 
O interessante e artístico desta leitura, tal como no bom teatro de texto português, é que tudo gira em torno do texto mesmo quando os actores não percebem nada do que estão a dizer. Só que aqui é divertido e não temos figurino de época.  

Quanto ao Vogue Fashion´s Night Out estabeleço um ponto de comparação porque uma das presenças mais marcantes foi o Miguel Sousa Tavares, mais um que diz texto e não sabe o que está a dizer.


Até já,
rodrigo

Vogue vs Marco

Porque a comparação é importante para nos sentirmos seguros do que somos, eu pensei que seria útil estabelecer uma comparação entre este evento no Goethe-Institut e o evento que, lá em baixo, se passou na 5ª-Feira (13 de Setembro), o Vogue Fashion´s Night Out.
O prólogo deste último é qualquer coisa assim: "O relógio marca 19 horas. Mas, nesta noite, as portas não se fecham: acendem-se luzes néon, afina-se o volume do batimento eletrónico, erguem-se bandejas de morangos e distribuem-se flutes de champanhe." 

Já o Marco Alemão descreve-se como: "A convite do Goethe Institut de Portugal, o Teatro Praga pensou num dia inteiro de atividades para abrir o início de um ano comemorativo dos 50 anos da presença deste Instituto em Portugal. Desde o final da manhã até ao início da manhã seguinte, os diversos espaços do edifício serão ocupados com acontecimentos e propostas artísticas comissariados pelo Teatro Praga." 

A comparação torna-se credível e oportuna porque o Alemão está na moda, especialmente Berlim onde deambulam Pragas de gentes muito artísticas que usam óculos de massa e roupa em segunda mão. 
O mote está então lançado e ao longo deste dia irei tentar, com muito sentimento, descrever o que por aqui se passa.

Para começar posso dizer que se na Avenida da Liberdade se via gente bonita, gente com glamour e gente que, acima de tudo, sabe estar; no Goethe-Institut o ambiente não fica atrás. Não temos morangos com chantily na GANT USA mas já tivemos a Joana Bárrios a desenhar o símbolo da ADIDAS num quadro enquanto falava sobre a "moda" alemã. Temos também um rapaz com uma trança e um chapéu de Pluto logo à entrada, o que não sei se é relevante, mas é giro de se ver.

Até já,
rodrigo


Writing about difficult subjects, ou sobre como os Há.que-dizê-lo fazem reviver contos tradicionais com elementos das peças dos Praga. São estas as peças que resistem à interpretação? Segundo os críticos clássicos não as percebemos por não possuirmos o referencial clássico, e segundo os críticos modernos não as compreendemos porque não somos suficientemente hipster (não estamos dentro da cena). “Declara-se proibida a reinvenção de cada história”, “O coelho é meu”, “A Gabriela é a Sónia Braga, chega de revivalismos”. E vê-se um coelho que veio fugir de outras manifestações para participar no teatro alternativo mas que, ainda assim, parece ligeiramente entristecido. É que “isto não é moderno filho, é contemporâneo”. 

casa & conforto


Unheimliche é não-heimliche. Heumliche é o que é próprio de heum. Heim é casa. Unheimliche é o que não é próprio da casa. Que não é próprio da casa, mas da casa que conhecemos, da nossa casa, o que não é próprio da nossa casa, lobo mascarado de avó, ou avó mais ou menos irreconhecível, se calhar porque de repente não se lembra de nós, ou já não nos quer, ou quer-nos de outra maneira, tipo chimpanzé. É casa & conforto mas com promoções excessivas, é o conforto do lar, tudo lá, tudo lar, mas com o tapete a fugir-nos dos pés, puxado por alguém, mas quem, puxado por quem? Ou pelo quê? É isso, mais ou menos.

Atenção aos vários modelos, tal como o estilo polaca pobre com legging irónica ou  tipo miúda alemã genérica.

conferências a crianças sobre conceitos filosóficos em alemão intraduzíveis (isso é o que eles dizem)


O António guerreiro pediu desculpa antes de começar a prelectar às crianças, disse que era comum os oradores antigos fazerem isso, pedir a benevolência ao auditório, o António guerreiro pediu desculpa e de seguida pediu a benevolência ao auditório. E os adultos presentes parece que coçam a cabeça: as crianças sabem o que é pedir benevolência? Sabem, porque se percebe, o António guerreiro pede a benevolência e toda a gente percebe o que ele está a pedir, está a pedir a benevolência, porque se percebe quando uma pessoa pede benevolência.
As crianças rebolam nas almofadas enquanto o António Guerreiro está a falar e os adultos coçam a cabeça: será que as crianças estão a ouvir o António guerreiro? Estão, porque pensam noutras coisas ao mesmo tempo que ouvem o António guerreiro a falar da inquietante estranheza, maneira como os franceses traduzem Unheimliche, quando deviam era traduzir «pelo que não é próprio da nossa casa», os franceses, mas não, dizem inquietante estranheza. E as palavras do António guerreiro levam as crianças que rebolam nas almofadas a outras coisas, fora de casa, fora da casa delas, estranhas mas ao mesmo tempo familiares.


ShopOneHour é germanizar ou ser germanizado, i.e. dar ou adquirir carácter, qualidades ou feições alemãs, traduzir para alemão, ter ou adoptar costumes ou atitudes alemãs.

Alguns dos exemplos são: retroelectro, freitag, birkenstock, estilo polaca pobre ou estilo fufa Marlene Dietrich, noção de styling La Redoute, cortes de cabelo à alemão (que é o meu, ups), estampados não essenciais. E, mais que tudo, os goodie bags da moda que têm o catálogo do Lidl.

Present
I germanize
you germanize
he/she/it germanizes
we germanize
you germanize
they germanize
Present continuous
I am germanizing
you are germanizing
he/she/it is germanizing
we are germanizing
you are germanizing
they are germanizing
Simple past
I germanized
you germanized
he/she/it germanized
we germanized
you germanized
they germanized
Past continuous
I was germanizing
you were germanizing
he/she/it was germanizing
we were germanizing
you were germanizing
they were germanizing
Present perfect
I have germanized
you have germanized
he/she/it has germanized
we have germanized
you have germanized
they have germanized
Present perfect continuous
I have been germanizing
you have been germanizing
he/she/it has been germanizing
we have been germanizing
you have been germanizing
they have been germanizing
Past perfect
I had germanized
you had germanized
he/she/it had germanized
we had germanized
you had germanized
they had germanized
Past perfect continuous
I had been germanizing
you had been germanizing
he/she/it had been germanizing
we had been germanizing
you had been germanizing
they had been germanizing
Future
I will germanize
you will germanize
he/she/it will germanize
we will germanize
you will germanize
they will germanize

tradução


Podes-me traduzir é como quem diz, podes-me atravessar o rio, eu dou-te uma moeda, por favor, traduz-me, assim aparece a certa altura naquele livro pequenino que muita gente leu quando era novo, editado na minerva, o siddartha, do escritor mais ou menos manhoso hermann hesse. O siddartha quer atravessar o rio, pede ao barqueiro que o atravesse no seu barco e no original alemão é como quem diz, traduz-me, por favor, traduz-me para o outro lado, uberzetzen, é assim que aparece, e nem sequer é preciso dizer «uberzetzen» para o outro lado, porque «uberzetzen» já contém «para o outro lado», não me traduzas para o outro lado, traduz-me simplesmente, não me traduzas para o outro lado porque isso é voltar de novo para aqui. Traduz-me e é suficiente. Eu dou-te uma moeda. Mas tem de ser marco, marco alemão. Eu marco alemão, tu marcas alemão, ele marca alemão. Espera. Marca alemão? Não, marca alemã. Qual marca alemã. sei lá, uma qualquer. Está bem eu traduzo, está bem, eu vou traduzir-te. 
Em Azeitegeist vive-se o espírito dos tempos com azeite Galo e come-se creme Nívea. Tivemos pequeno-almoço e almoço, vamos agora passar à sopa alemã depois de salsichas tipo Frankfurt. Transforma-se uma sopa quente de Inverno numa de Verão com... caldo Knorr! Ups, momentos breves de uma manifestação contra os caldos, mas ganham os corantes e conservantes.   






Tokio Hotel e suas doppelganger, a guarda avançada da filosofia moderna alemã (estranhamente hoje com pouco eyeliner).